Na semana passada, mais precisamente, na quarta-feira, estava com preguiça
de fazer esteira depois da hidroginástica e no hall da academia, esperei por
minha irmã. Enquanto aguardava, passei as vistas em algumas revistas em cima da
mesa de centro, da sala que da vistas para a piscina olímpica e uma reportagem
interessante me chamou a atenção.
A mulher decidida, cujo nome não
lembro, fez a opção de se afastar de tudo que dissesse respeito a sua juventude,
onde foi ensinada a amar e servir a Deus. Passou a não crer em nada e a viver
para o mundo dos negócios. Afastou-se da família e voltou-se para os próprios interesses.
A vida vazia de Deus e cheia de ilusões gloriosas lhe foi oferecida em uma
bandeja de ouro, e ela aceitou.
Depois de longos anos, a mulher
madura, embrutecida pela vida, voltou à cidade natal para viver o drama de ver o
seu velho pai com câncer. No hospital, por vários dias, sedado por causa das
fortes dores, aquele homem vegetava. Numa das idas e vindas ao hospital, que
ficava no centro da cidade, ela parou na centenária igreja, onde passou a
infância assistindo as pregações que o seu amado pai por hora moribundo, fazia.
Saltou do carro, olhou em volta e com os passos lentos e mãos trêmulas,
caminhava em direção à porta de madeira trabalhada. Entrou devagar, andou lentamente
pelo corredor olhando as velhas paredes decoradas, os bancos enfileirados,
aguardando o povo que não chegava. O órgão de tubos, que confuso, sem entender
o silêncio do momento, ansiava por dedos macios que lhes percorresse as teclas.
A cruz de madeira do altar central estava mais vazia do que nunca e, o vitral
perdera o brilho das cores e, a luminosidade dos raios de sol que incidiam em cada
parte dele. O púlpito vazio, já não bradava em sermões gloriosos, capazes de
arrebatar mentes e corações.
A pobre mulher sentou-se, chorou em
soluço profundo, voltando à mente, episódios que pensava ter deletado para
sempre. Eles não serviram durante um longo período da vida, mas agora pareciam
tão preciosos; tão aconchegantes. Ela queria manter o coração aquecido pela
memória distante, que insistia em esfriar e lamentavelmente a pulsação dos
flashes diminuía a cada instante.

Num dado momento, a voz firme que,
como brisa suave penetrou no coração, dizendo: “Aqui, é o teu lugar. Para isto,
te chamei”. O consolo da voz de Deus abraçou-a outra vez. Sentou-se no degrau
acarpetado em tom vermelho e enxugando as lágrimas, deu meia volta em seu atual
curso de vida. Resolvida a colocar em prática tudo o que aprendeu com seu pai e
no seminário onde graduou em Teologia, retrocedeu, abandonando a vida atual
para tornar-se pregadora do evangelho e pastorear a igreja substituindo seu
pai. Em suas palavras de arrependimento, uma luz intensa brilhou, mostrando o
novo rumo a seguir. E ela agarrou com unhas e dentes a nova chance, o recomeço
de algo que não deveria ter deixado, jamais.
Logo minha irmã chegou e eu não pude
terminar de ler a reportagem, mas aquela história não me saiu da mente, até
tornar-se matéria do blog. Na aula
seguinte, vasculhei todas as revistas, porém não achei mais a revista em que se
encontrava a reportagem. Queria terminar de ler e guardar maiores detalhes, mas
foi impossível.
Porém, li o suficiente para escrever
sobre alguém que corajosamente voltou às raízes. Eu sou filha de pastor, e acompanhei
a luta do meu pai dando a vida pelo ministério. Muitos o abraçaram e ajudaram,
mas muitos jogaram pedras e elas o feriram bastante, a ponto de adoecê-lo.
Aqui, faço uma pausa para ressaltar a dificuldade de ser filho de pastor. Eu
fui ensinada por meus pais a ser exemplo para os demais e, assim nunca sabia o
que podia ou não, fazer. A coisa é que, eu não podia ser normal como todo
mundo, pois carregava a pesada cruz de “filha de pastor”. E muitas vezes,
deliberadamente, pessoas colocavam mais peso sobre ela. Com o passar do tempo
eu fui entendendo que o verdadeiro exemplo é Jesus, o Filho de Deus. Ele é a
perfeição de Deus entre os homens.
Não estou aqui para condenar a mulher
por ter-se distanciado. Nem para questionar o tempo que deixou passar sem sábia
decisão. Às vezes reagimos positivamente a uma decisão, apenas quando nos encontramos
coagidos por ela. O certo é que as nossas decisões na vida e pela vida, sejam
por amor. Um amor consciente, que rompe as dificuldades para ser vivenciado.
Não um amor de remorsos ou imposições, mas genuíno; aquele que transcende, e
une mais do que corpos, une almas, que são incapazes de se separar.
Estando em Cristo, temos perfeita
ligação, de forma que somos um com Cristo e, nada, nem ninguém, pode nos
separar do amor de Deus. Se para nos
manter inteiros neste amor, for necessário romper com outras alianças,
façamo-lo. Assim como dois corpos não podem ocupar o espaço físico ao mesmo tempo,
a nossa vida não pode ser ocupada por dois senhores. Ou amamos a Deus ou a.....
(e aqui cada um de nós pode acrescentar o seu tropeço individual). É tempo de
retorno, É tempo de vivermos a integralidade que Deus exigiu de Abraão. “Anda
na minha presença e sê perfeito”. (inteiro, íntegro)
Termino este texto com o final do
poema “Moça me da uma rosa” de Mario Barreto França.
...No contraste da vida, infausta ou
abastada,
Nós somos muita vez, como o órfão e a
galã,
Negando do consolo de uma rosa
encarnada,
Para as faltas de amor chorarmos
amanhã...
E ao peso acusador das
líricas saudades,
Vamos levar depois às mortas
ilusões,
Todo o rubro rosal das
oportunidades,
Que deixamos passar, sem úteis
decisões.
Que possamos abrir
as grades do egoísmo,
E ofertar a quem
procura afeto e paz,
A rubra flor da
fé, do eterno cristianismo,
Que na alma a
renascer, não murcha nunca mais.
Grande abraço a todos.
Denise Figueiredo Passos
Li na integra, inclusive o poema de Mário Barreto Franca.
ResponderExcluirLouvo a DEUS por ter te dado a oportunidade de ler aquela matéria, e você sabiamente e divinamente inspirada publicou-a aqui acrescentado outro pormenores valiosos...!
Parabéns!!!
Fez-me lembrar do Pr. Newton, da Família Figeuiredo, da Igreja de V. R. e da Igreja da V.P.
Que DEUS continue confortando teu coração, e abençoando teu Ministério!!!
Fraternalmente em Cristo, Pr. Daniel G.
Muito obrigada,
ResponderExcluirApesar de não ser saudosista, gosto de recordar e trazer vivo na memória, pessoas queridas e fatos que marcaram a minha vida.
Nós vivemos o temnpo áureo da juventude das Assembléias de Deus e marcamos a nossa geracão.
Hoje, tudo é diferente. Eles tem a liberdade que tanto sonhavamos, mas não tem o compromisso que tívemos.
Deus abencoe o seu ministério.