quinta-feira, 11 de abril de 2013

QUAL É A SUA?


Algumas vezes, eu me pego fazendo esta pergunta, cá com os meus botões. Fácil, é analisar a vida alheia, difícil, é enumerar as próprias dificuldades, analisar prós e contras, e tomar decisões sábias, que provoquem mudanças. Difícil é tomar atitude que provoque movimentação no céu, para socorro e solução, imediatos.

Há alguns domingos atrás, em nossa igreja, Shalom Pentecostal Church, em Delaware, nós oferecemos ao Senhor um excelente culto matutino. Visitou-nos o Bispo, Wanderley Santana, que nos trouxe uma simples, mas profunda reflexão, sobre a passagem do Evangelho de João capítulo 5, onde narra à história do paralítico de Bethesda.

Ele abordou alguns pontos interessantes, mas enquanto falava, minha cabeça fervilhava em ideias que me apressei a colocar no papel.

Aquele homem estava lá há cerca de trinta e oito anos. Pare pra pensar. Quanta coisa acontece em 38 anos? Quanta gente nasce e morre; quantos casamentos, formaturas e mudanças em geral. Ele acompanhou todas as transformações do lugar. Talvez a construção dos alpendres para melhor acomodação do povo que ali habitava e precisava de abrigo para o sol e as esporádicas chuvas, além do frio e orvalho noturnos. Na “casa da misericórdia”, havia outra série de coisas, tais como, alimento repartido ou mesmo doado, água, espaço, muitas histórias de doenças em comum... Apesar de não estarem em sua própria casa, os habitantes do lugar eram bem quistos e cuidados. Talvez, o “lugar da misericórdia”, tenha se tornado um bom negócio para muitos, e não era de interesse que terminasse. Em comparação, aquele lugar era como o Porto das Caixas, que se tornou famoso com o sangramento periódico da imagem.

O novato que chegasse a Bethesda era interpelado: De onde você vem? Qual é a sua doença? Mas, após responder ao questionário, outra serie de perguntas acontecia: Há quantos anos você está aqui? Será que isto aqui funciona mesmo? O movimento é tão bom assim? O protagonista da nossa história diria assim: Só eu, tenho trinta e oito anos que estou aqui rondando o poço; algumas vezes quase aconteceu, mas na hora H, outro mais rápido, mais antenado, pula primeiro na água, então, volto para o meu lugar...

Todos os necessitados de cura, daquela época iam ao poço de Bethesda, que significa “casa de misericórdia”. O mundo judaico da época experimentava um silêncio de Deus, que durou cerca de 400 anos, tempo este do surgimento das escolas filosóficas, na Grécia antiga, que interferia muito na estrutura cultural do povo. Mesmo assim, por causa da misericórdia divina, acreditava-se que um anjo agitava a água de tempos em tempos, trazendo cura. O anjo, para muitos, passou a ser motivo de culto e os doentes passaram a esperar por ele e nele. Àquelas pessoas, se acostumaram a viver da “misericórdia”. Sabe o que isto significa? Estagnação. Viver de “pena”. Acomodam-se em viver da misericórdia alheia e se julgam incapazes de andar com as próprias pernas. Ou vivem de ver movimentos aqui e ali, arranjados para ambientes públicos e, já não podem mais ouvir a voz do Pai em secreto, pois rejeitam fechar a porta do seu quarto para conversarem na intimidade com Deus.

O paralítico da nossa história pelo visto, fez a sua cama longe do poço e nunca chegava às águas, enquanto estas fervilhavam. Aquela “misericórdia” oferecida, não era capaz de transformar de vez a vida de todas as pessoas. Eles se acomodaram aquele tipo de misericórdia, quando Deus sempre tem mais e melhor a oferecer. “A acomodação a uma situação é a principal barreira construída por nós”.


Muitos “misericordiosos de carteirinha” descem ao poço, para supostamente ajudar aos que lá estão carentes de duas necessidades; levam conforto, amizade, alimentos, agasalho e uma infinidade de coisas, em solidariedade a dor do outro, isto é louvável; porém, sem nunca oferecer a opção de saída daquele lugar. “A misericórdia de Deus é oferecida como solução e não como paliativo”.

Oferecer a solução é um maior ato de misericórdia do ponto de vista divino, mas a nossa pouca fé, nos faz oferecer o poço de Bethesda, como paliativo para o resto da vida, usando a seguinte desculpa: Se tem que ser assim, que seja. O poço de Betesda é ruim? Não. Mas, ele deve ser uma exceção e não uma regra na vida do cristão.

Quando Jesus chega ao local, sonda o ambiente e caminha exatamente em direção aquele paralítico, fazendo-lhe a seguinte pergunta. Você quer ser curado? Notem que ele não respondeu, mas começou a enumerar as desculpas em que debruçou a vida nestes trinta e oito anos. Foi como se dissesse: Querer, eu quero, mas ninguém me ajuda. Porque ele não fez a sua cama mais perto do poço, para facilitar à descida as águas? Perto da fonte, existem mais probabilidades, certo?

Sou tentada a pensar que, na verdade, ele não queria ser curado. Acostumou-se aquele tipo de vida. Arrasta pra lá, arrasta pra cá; arrasta pra lá, arrasta pra cá. Isto, há trinta e oito anos. Notem, não são trinta e oito dias, nem trinta e oito semanas ou meses. É praticamente uma vida inteira, enxergando-se e sendo visto por outros como “coitadinho”.

Apesar da acomodação, aquele homem não desistiu, instalando-se de vez naquela situação. Havia uma veia de esperança, conduzindo-o a fé, latente em seu coração. Mesmo com a depressão de não ver nada acontecendo todos aqueles anos, de estar envelhecendo aos poucos e ver em cada dia as chances por uma ótica mais distante. De ver tantos que desciam ás águas à frente dele, deixando-o com os seus sonhos de liberdade para trás; para uma próxima oportunidade, quando os ventos lhe fossem favoráveis. Ele não desistiu.

Nesse momento de agonia, Jesus seguiu em direção a ele. A única informação que Jesus pediu, foi à confirmação de sua vontade. E a única resposta que esperava era: Sim, quero. Os nossos “mas, porém, todavia, entretanto”, é que atrapalham. O Mestre não se interessa em saber das nossas possibilidades humanas; se temos recursos, qual é o dia da semana para que o milagre aconteça. Se os fluidos estão bons, se há uma corrente positiva... Ele precisa apenas, saber o que queremos, mediante a fé que possuímos. “O tamanho do milagre é na medida da nossa fé”.

Deus nos abençoe.

Denise Passos