Há alguns domingos atrás, em nossa igreja, Shalom Pentecostal
Church, em Delaware, nós oferecemos ao Senhor um excelente culto matutino.
Visitou-nos o Bispo, Wanderley Santana, que nos trouxe uma simples, mas profunda
reflexão, sobre a passagem do Evangelho de João capítulo 5, onde narra à história do
paralítico de Bethesda.
Ele abordou alguns pontos interessantes, mas enquanto falava,
minha cabeça fervilhava em ideias que me apressei a colocar no papel.
Aquele homem estava lá há cerca de trinta e oito anos. Pare
pra pensar. Quanta coisa acontece em 38 anos? Quanta gente nasce e morre;
quantos casamentos, formaturas e mudanças em geral. Ele acompanhou todas as
transformações do lugar. Talvez a construção dos alpendres para melhor
acomodação do povo que ali habitava e precisava de abrigo para o sol e as
esporádicas chuvas, além do frio e orvalho noturnos. Na “casa da misericórdia”,
havia outra série de coisas, tais como, alimento repartido ou mesmo doado,
água, espaço, muitas histórias de doenças em comum... Apesar de não estarem em
sua própria casa, os habitantes do lugar eram bem quistos e cuidados. Talvez, o
“lugar da misericórdia”, tenha se tornado um bom negócio para muitos, e não era
de interesse que terminasse. Em comparação, aquele lugar era como o Porto das
Caixas, que se tornou famoso com o sangramento periódico da imagem.

Todos os necessitados de cura, daquela época iam ao poço de
Bethesda, que significa “casa de misericórdia”. O mundo judaico da época
experimentava um silêncio de Deus, que durou cerca de 400 anos, tempo este do
surgimento das escolas filosóficas, na Grécia antiga, que interferia muito na estrutura cultural do povo. Mesmo assim, por causa da misericórdia divina, acreditava-se
que um anjo agitava a água de tempos em tempos, trazendo cura. O anjo, para
muitos, passou a ser motivo de culto e os doentes passaram a esperar por ele e
nele. Àquelas pessoas, se acostumaram a viver da “misericórdia”. Sabe o que
isto significa? Estagnação. Viver de “pena”. Acomodam-se em viver da
misericórdia alheia e se julgam incapazes de andar com as próprias pernas. Ou
vivem de ver movimentos aqui e ali, arranjados para ambientes públicos e, já
não podem mais ouvir a voz do Pai em secreto, pois rejeitam fechar a porta do
seu quarto para conversarem na intimidade com Deus.
O paralítico da nossa história pelo visto, fez a sua cama
longe do poço e nunca chegava às águas, enquanto estas fervilhavam. Aquela
“misericórdia” oferecida, não era capaz de transformar de vez a vida de todas as pessoas. Eles se acomodaram aquele tipo de misericórdia, quando Deus
sempre tem mais e melhor a oferecer. “A acomodação a uma situação é a principal barreira construída por nós”.
Muitos “misericordiosos de carteirinha” descem ao poço, para
supostamente ajudar aos que lá estão carentes de duas necessidades; levam
conforto, amizade, alimentos, agasalho e uma infinidade de coisas, em
solidariedade a dor do outro, isto é louvável; porém, sem nunca oferecer a
opção de saída daquele lugar. “A
misericórdia de Deus é oferecida como solução e não como paliativo”.
Oferecer a solução é um maior ato de misericórdia do ponto de
vista divino, mas a nossa pouca fé, nos faz oferecer o poço de Bethesda, como
paliativo para o resto da vida, usando a seguinte desculpa: Se tem que ser assim,
que seja. O poço de Betesda é ruim? Não. Mas, ele deve ser uma exceção e não
uma regra na vida do cristão.
Quando Jesus chega ao local, sonda o ambiente e caminha
exatamente em direção aquele paralítico, fazendo-lhe a seguinte pergunta. Você
quer ser curado? Notem que ele não respondeu, mas começou a enumerar as
desculpas em que debruçou a vida nestes trinta e oito anos. Foi como se
dissesse: Querer, eu quero, mas ninguém me ajuda. Porque ele não fez a sua cama
mais perto do poço, para facilitar à descida as águas? Perto da fonte, existem
mais probabilidades, certo?
Sou tentada a pensar que, na verdade, ele não queria ser
curado. Acostumou-se aquele tipo de vida. Arrasta pra lá, arrasta pra cá;
arrasta pra lá, arrasta pra cá. Isto, há trinta e oito anos. Notem, não são
trinta e oito dias, nem trinta e oito semanas ou meses. É praticamente uma vida
inteira, enxergando-se e sendo visto por outros como “coitadinho”.
Apesar da acomodação, aquele homem não desistiu,
instalando-se de vez naquela situação. Havia uma veia de esperança,
conduzindo-o a fé, latente em seu coração. Mesmo com a depressão de não ver nada
acontecendo todos aqueles anos, de estar envelhecendo aos poucos e ver em cada
dia as chances por uma ótica mais distante. De ver tantos que desciam ás águas à frente dele, deixando-o com os seus sonhos de liberdade para trás; para uma
próxima oportunidade, quando os ventos lhe fossem favoráveis. Ele não desistiu.
Nesse momento de agonia, Jesus seguiu em direção a ele. A
única informação que Jesus pediu, foi à confirmação de sua vontade. E a única
resposta que esperava era: Sim, quero. Os nossos “mas, porém, todavia,
entretanto”, é que atrapalham. O Mestre não se interessa em saber das nossas possibilidades
humanas; se temos recursos, qual é o dia da semana para que o milagre aconteça.
Se os fluidos estão bons, se há uma corrente positiva... Ele precisa apenas, saber
o que queremos, mediante a fé que possuímos. “O tamanho do milagre é na medida da nossa fé”.
Deus nos abençoe.
Denise Passos