segunda-feira, 17 de setembro de 2012

Você ouve o grito?

Ter sido criada num lar cristão, trouxe a minha vida uma enorme bagagem. Fui ensinada a amar a Deus sobre todas as coisas e a honrar o Seu nome, mesmo que meus interesses precisem ser prejudicados. Meus irmãos e eu, tivemos um crescimento saudável que nos condicionou a sair do quadradinho em que fomos ensinados, sem nos perder da essência do evangelho. Nosso lar era simples e feliz. Serviu de abrigo para o crescimento de muitos, pois além de pastores, papai e mamãe foram verdadeiros pais ao abraçarem seus congregados. Quando fomos para a igreja que ele pastoreou por mais de trinta anos, eu tinha apenas oito anos de idade e, cresci entendendo os participantes da igreja como familiares. Tivemos muitos problemas, mas o amor e a união nos fez a vencer muitos desafios.
Quando olho para as dificuldades das igrejas atuais, não vejo que o problema começa na igreja, mas nos lares. A igreja é uma comunidade, onde várias famílias, oriundas de visão, cultura e valores diferentes estão juntas para um propósito. As igrejas que deveriam servir de base orientadora, andam meio perdidas como nos hospitais públicos; muita gente zanzando nos corredores sem atendimento eficaz. Os médicos, como muitos pastores, andam desestimulados com a infraestrutura organizacional e, os que são competentes e que realmente vestem a camisa do seu chamado, precisam além de tudo o mais, ser grandes malabaristas, para segurar a peteca que insiste em cair.
 
A igreja primitiva cresceu com as reuniões simples nos lares e isto serviu de base   para as famílias. O aconchego da igreja era o aconchego do lar. Mas, hoje, as famílias pouco se reúnem para uma simples refeição; como podem manter o aconchego como família de Deus em seus mega templos? Os tempos atuais estão nos empurrando para a individualidade, haja vista que uma grande maioria acha melhor ser crente em casa, tendo irmãos virtuais, pastor virtual, ceia virtual, isto, sem ter a necessidade de dizimar virtualmente. Compromisso zero, baseado em decepções com o homem que vê, redundando para o Deus que não vê.
 
Nos anos em que o povo de Israel esteve habitando no Egito, parte dele preservou sua cultura, seu Deus e sua identidade, porém, muito se perdeu no coração do povo. Porque há tanta facilidade em assimilar o erro? A vida, a cultura, os deuses, a orgia que envolvia a religiosidade, a facilidade aparente da fartura de víveres; iludiu o povo que já não entendia o seu Deus como o Todo-Poderoso, Doador da vida, Criador de todas as coisas.  Um Deus que dava pouco e exigia muito, no entendimento da grande maioria. Para quatrocentos anos de escravidão, foram necessários quarenta anos de desintoxicação no deserto. Uma purificação que foi apenas parcial, pois o verme da idolatria impregnou-se neles. E assim, o ranço acompanhou o coração corrompido daquele povo, que entre vitórias e derrotas, experimentou o sabor do mel que a obediência traz e o amargo do fel, que acompanha a desobediência.
 
Hoje não acontece muito diferente. Os altares erigidos aos semideuses pelos que invocam por adoração do povo, que pensa estar agradando e adorando a Deus, estão por toda a parte. Imperceptíveis, estão camuflados de “glória de deus” nos seus grandes movimentos teatrais. A adoração é tanta, que se hoje Jesus Cristo estivesse em julgamento, vestido de toda humildade que pregou, seria escolhido na seleção para a crucificação entre seu próprio povo.
 
Esperamos ardentemente por um avivamento que está às vias de vir. E nós cremos que ele realmente virá. Mas, enquanto o ranço nos acompanhar é inviável de acontecer. Quando o pentecoste veio sobre os fiéis, para assim formar a igreja de Cristo, eles estavam unidos e reunidos num lugar. Nós estamos, e digo isto com muito pesar, como numa Babel, cada um falando a sua própria língua, sem que o Espírito que unifica e universaliza, atue, para uma guinada de 360 graus no coração do povo, para que este regresse a essência da origem, que se tem diluído ao longo do tempo.
 
“A sabedoria clama em voz alta nas ruas, ergue a voz nas praças públicas; nas esquinas das ruas barulhentas ela clama, nas portas da cidade faz o seu discurso: Até quando vocês, inexperientes, irão contentar-se com a sua inexperiência? Vocês, zombadores, até quando terão prazer na zombaria? E vocês, tolos, até quando desprezarão o conhecimento? Se acatarem a minha repreensão, eu lhes darei um espírito de sabedoria e lhes revelarei os meus pensamentos”. Provérbios 1:20 a 23
 
Até a natureza está em dor. Ela geme diante da nossa estupidez. Nós, seres conscientes, que gabamos uma estupenda inteligência, não a utilizamos para o que é reto; passamos a vida lutando por causas que não glorificam a Deus em absolutamente nada. Nossos próprios interesses fazem alarde adiante de nós como o som de guizos, que batem em paredes ocas e por isso são muito barulhentos. O único propósito é o de chamar a atenção.
 
A Sabedoria está clamando, ela grita incessantemente nas ruas, nas praças, sua voz clama dentro de nós. Quando daremos ouvidos? É tempo de permitir a circuncisão do coração e parar de fingir viver o cristianismo que não temos. A hora chegou, em que não há tempo de brincar de ir a igreja aos domingos para ter um descontraído encontro social. Ou abraçamos de uma vez por todas o Cristo ressurreto ou o negamos veementemente. A Graça de Deus é maior do que a Lei, portanto implica em maior responsabilidade.
 
Quando descemos as águas batismais, como simbolismo de morte para tudo que é contrário a Deus e emergimos para uma novidade vida, precisamos entender a responsabilidade deste ato e de verdade optar por viver uma vida de liberdade em Cristo, livre das prisões que tão de perto nos rodeia. Uma enorme gama de pessoas que amam a Deus e professam o seu nome ainda não conhece esta liberdade. Dizem amar a Deus, mas andam quilometricamente distantes do Espírito de Sabedoria e de Revelação. E se os pensamentos de Deus não são mais revelados ao povo, para que andem em retidão, este, parte para a sua própria imaginação que por sinal tem sido bastante fértil.
 
As invencionices mirabolantes tomam o lugar do que é simples e objetivo, porque ninguém mais dá ouvidos à repreensão. O povo vive como no deserto, migrando de oásis em oásis, escolhendo onde haja melhor sombra e água fresca. Sem se dar conta que viver o evangelho de Cristo é sofrer por amor a Sua causa. Quem já sofreu por amor, sabe muito bem do que estou falando. É negar-se a si mesmo e as suas vontades pelo que é nobre. Tudo em prol do REINO de DEUS.
 
Deus esteja entre nós; dando-nos um espírito de sabedoria que nos revele seus perfeitos pensamentos!!!
 Na foto acima, meus pais. Pastores Newton e Ilma Figueiredo.
 
Denise F Passos