Na série de estudos e orações que
estamos realizando na igreja Shalom em Delaware, identificamos os dois
primeiros gigantes a serem dominados, a fim de que tenhamos uma vida mais
integral. O “eu e a língua”, foram apontados como cabeças da listagem. O
terceiro gigante, não menos nocivo que outros, atrapalha bastante a vida
pessoal e em sociedade. A “negligência” é uma grande inimiga que atravanca a
vida, dificultando o avanço em muitas áreas.
Quando ouvimos este termo, não temos
noção de como é abrangente, requerendo muito cuidado para não nos enredar na
esparrela da falta de compromisso. Uma pessoa começa negligenciando pequenas coisas
e, se desde criança não for ensinada a cumprir certas responsabilidades, o caos
se instala, então quando a pessoa se acha num mundo, onde a confiança dos
cidadãos é destruída dia a dia, sem alternativa ético-política-religiosa, que
dê soluções plausíveis ao caos social, encerra-se numa prisão, de onde não
consegue sair. Porque o termo prisão? Porque o negligente com o passar do
tempo, cria um determinado conforto na situação, acomodando-se ao estigma de
“incapaz”.
Como é de costume, pesquisei o tema no google,
porém das tantas páginas que recorri apenas dois ou três tópicos abordavam o
assunto de forma geral e a grande maioria em outras áreas, do tipo: negligência
médica, jurídica, paterna etc. Parece que o tema em foco é quase nada
trabalhado na elaboração do indivíduo, em sua estrutura. E o que ocorre é que a
negligência é vigente, atualíssima, participativa na conduta humana, em todas
as áreas cabíveis.
O dicionário nos dá uma vasta lista
de significados: desleixo, falta de diligência, preguiça, ausência de reflexão
necessária. Suas características principais são a inação, indolência, inércia e
passividade. A negligência “insensatez” faz parte da cultura do vazio que
avassala a nossa sociedade. O vazio mental é uma grave alteração estrutural da
mente, que mesmo sendo tão vasta não consegue conter conteúdos devido à
afetação.
“Havendo vontade, abre-se o caminho”. Bowes
É comum, que as pessoas tenham o seu
lado autônomo, independente de terceiros, donos de si e de sua história, livres
para pensar e decidir, por outro lado, elas se encontram totalmente
vulneráveis, com dificuldades de cultivar e manter relacionamentos e
compromissos pela grande dificuldade de se auto identificar. O negligente vive
em torno de si mesmo, vivendo a mercê das ondas, entregando-se as paixões
vazias, onde a extrema fragilidade as deixa vulneráveis. O negligente está tão
perdido dentro de si, que prioriza as grandes futilidades. Os meios de
comunicação inadvertidamente contribuem para este estado de coisa, com programações
chulas; humor barato, nada inteligente, ofertas de consumo exacerbado, notícias
alarmantes e nada educativas.
Tudo o que é bom, tudo que enobrece a
beleza da vida, a boa música, o enriquecimento interior, estão sendo relegados
pela cultura do vazio, pois na atual conjuntura, promover a ociosidade está em
voga. A realidade atual insiste em que, gastar tempo com o que bom e reto, é
perder tempo.
Em estudo realizado na relação
pais-filhos verificou-se após analise de todas as queixas que a maior parte dos
distúrbios de conduta foram gerados pela negligência educacional. O produto
final na criação moderna está evidenciando por uma geração de negligentes.
Apenas uma pincelada no que diz a
psicanálise acerca do assunto, para entendermos que a negligencia pode evoluir
em patologia, que é um transtorno de personalidade, que se não for cuidada em
tempo cria um grande desvio. Isto porque o alardeado progresso provoca
sentimento de impotência, porque o homem
não busca tempo para aquilo que o refaz em seu homem interior. Ao contrário
apegam-se ao que é fútil, ao sexo exacerbado e a diversão ilusória, tentando
arrastar o céu para o chão a fim de que fique no mesmo nível, na luta inglória
contra a depressão.
Vamos focar o que a Bíblia diz a
respeito. Ela trata a negligência como o pecado de “insensatez”. O texto
bíblico diz: “Maldito o que faz com negligência o trabalho do Senhor...”. Jeremias
48:10a
A chamada de atenção da parte de Deus
é pelo fato de que, mesmo inconscientemente, a negligência é uma desistência
pelo todo da vida. É um desapaixonar-se,
não se dando conta das coisas mais importantes e relevantes da vida. É um não
querer por causa da pouca forca para querer. É mais do que apenas o fato de
deixar de fazer alguma coisa que lhe compete, é não sentir nenhum motivo para
fazer. Os filhos do profeta Eli negligenciaram o serviço da casa de Deus. Eles banalizaram
o sagrado, agindo com leviandade e grande insensatez. Deus os rejeitou e Samuel
herdou o direito deles na sucessão.
Portanto, tudo que fazemos para Deus
deve ser por amor a Ele. Se não temos motivação alguma para realizar o melhor,
o que está acontecendo de errado? Quando decidimos viver para Deus de modo que
ele faca parte do nosso cotidiano, a negligência por ser um abandono de si
mesmo não mais nos cabe dentro dela. Nossa humanidade nos deixa em baixa vez
por outra, isso é normal, mas não é normal o estado de letargia que e
negligência provoca.
Apenas a presença de Deus pode banir
de uma vez por todas tudo que nos deprime, pois como afirma a Escritura, em Sua
presença até a tristeza salta de prazer. Servimos a um Deus que quer ser
presente e atuante e ter liberdade em nosso ser. Mas, coisas como o vazio
mental impedem a atuação do Espírito de Deus em nós. Impedem a nossa adoração.
Impedem o relacionamento. Mas precisamos lutar para conseguir vencer este tipo
de coisa. Nada vem de graça, precisamos conquistar.
Já passei por momentos na minha vida
que eu precisei me confrontar para poder sair das prisões em que me meti.
Lembro-me de um dia em que estava tão deprimida, então peguei uma cadeira
coloquei no meu quarto, deitei na minha cama e comecei a desabafar com Deus.
Falei tudo que me veio à mente, abri o verbo, falei com sinceridade tudo que
estava ocorrendo comigo e que necessitava de mudança, de forca, coragem. Eu não
o vi, mas sei que ele estava lá, pois levantei outra pessoa. Naquele dia Deus
fez o carinho necessário que a minha alma necessitava. Eu não aceito estacionar
em determinadas situações ruins da vida, já que tenho um Deus grandioso para me
ajudar.
O gigante da negligência precisa ser
controlado ou mesmo banido de nós e assim estarmos livres para um verdadeiro
compromisso com Deus.
Grande abraço.
Denise F Passos