Quantas pessoas podem dizer o mesmo?
No dia a dia percebemos a dificuldade de relacionamento entre as diferentes
gerações. Em todos os seguimentos da sociedade, mas escolho falar sobre quatro
seguimentos dentre os muitos existentes: pais, filhos e avós; professores,
diretores e alunos; patrões, chefes e empregados; pastores obreiros e membros.
Falamos a mesma língua, mas não a
mesma linguagem. O próximo, a quem amamos, já não está tão próximo. E mesmo que
haja proximidade física, os corações distam em quilômetros uns dos outros. O
que está acontecendo? Os problemas sociais, como desemprego, saúde, violência e
criminalidade, educação, desigualdade social, habitação, além de outros, se
aglutinam e são considerados os vilões, pois desembocam em muitos problemas de
ordem psicológica causando transtornos talvez irreversíveis.
Entre pais, filhos e avós, a
comunicação tornou-se um grande problema. A geração informatizada não precisa
aprender o básico da vida com os mais velhos. Tudo que precisam já está
programado nos sites especializados em “família virtual”. Já não se dá
importância ao respeito que deve haver com os mais experientes, para não dizer
idosos. Em outras culturas, os velhos são considerados detentores da sabedoria,
na nossa, uns chatos. A crise de modelo faz com que os nossos jovens olhem
pessoas completamente desvirtuadas para se espelhar, e assim, assumem a imagem
distorcida como padrão. Aproximar estas três gerações que vivem em mundos
completamente diferentes, é um grande desafio para o amor. É ele que vai dar
base ao equilíbrio para criar um censo comum no relacionamento familiar. Os integrantes machucados se afastam cada vez
mais do verdadeiro sentido de família, quando deveriam se empenhar para fazer
do seu ninho um “lar doce lar”. No período de formação, minhas filhas sempre me
ouviam dizer “família não é uma porção de gente morando junto”. Quando brigavam
e a coisa ficava feia o castigo era, ficar abraçadas por um período repetindo
uma para a outra, “irmãs não brigam, amo você”. E funcionou muito bem, são amicíssimas.
Professores, diretores e alunos se
agregam dentro de um mesmo prédio em diferentes realidades. As escolas em
países emergentes ainda enfrentam grandes desafios, onde, ensinar ficou muito
difícil! Os professores ainda se formam cheios de entusiasmo, achando que vão
educar seus alunos para mudar o mundo, mas logo se deparam com a realidade dos
colégios. A falta de recursos básicos; o mau ensinamento dos anos anteriores
que não lhes permitem realizar um bom trabalho; a violência que passeia nos
pátios, podendo chegar às classes; pais que não ensinam o respeito aos mestres;
os conflitos de todo tipo e que não são deixados do lado de fora, passam a
frequentar as salas de aula, formando alunos que aprendem cada vez menos.
Ao pensar na infância, lembro-me do
respeito que nutríamos pelos professores. Quem da minha geração não se lembra
do nome da sua primeira professora? Eles eram nossos ídolos. Quem da minha
geração não aprendeu amor a Deus e ao próximo, respeito, civilidade e civismo na
escola? Os valores atuais instituídos são totalmente inversos.
Patrões, chefes e empregados
trabalham com o objetivo de trazer sucesso à empresa, conquanto a
competitividade desenfreada produz grande rivalidade entre os escalões, onde a
regra se torna esta: “sai da frente que eu estou passando”. A tensão do
desemprego gera instabilidade emocional e o empregado se não for bem preparado
para o serviço, fica ainda pior. Patrões visam o seu lucro, os chefes querem
agradar os patrões e o pobre do empregado que se lasque. Eu trabalhei no
registro de diploma da Faculdade Nuno Lisboa, e gostava muito do serviço que
fazia, porém tinha um chefe que era deficiente no corpo e na alma. O sujeito
era intragável. Um dia ele levou uns diplomas do curso de engenharia para serem
registrados no MEC, trazendo outros já devidamente registrados e ao voltar
deveria me prestar contas para que eu os protocolasse e não o fez. Cerca de um
mês depois o formando veio requerer o diploma que simplesmente sumiu.
A culpa
foi parar em quem? Obviamente chefes nunca são culpados de nada. Eu revirei
aquela sala de ponta a ponta, até no arquivo morto eu procurei, e nada. Sobrou
apenas a mesa do chefe. Dirigi-me a ele e disse já ter procurado em todos os
lugares possíveis e impossíveis, apenas não havia procurado na mesa e armário
privativos dele. A reposta foi: você pode procurar, mas aqui é impossível de
estar e você precisa dar conta deste documento. Revirei as gavetas da
escrivaninha com vontade de esganar o chefe e quando abri a porta do armário,
ei-lo. O diploma estava na bolsa do chefe. Aquela situação me causou um enorme
transtorno, eu estava grávida de dois meses da minha primeira filha e as dores
e o sangramento de um princípio de aborto me colocaram numa encruzilhada e eu
escolhi deixar o emprego para não perder o meu bebê.
Os novos programas interativos das
empresas sérias, que visam o bem-estar do funcionário, são louváveis.
Pastores, obreiros e membros, não escapam dos problemas. As igrejas deixaram de ser
meditativas para serem contemplativas. O valor educativo na igreja está se
resumindo ao que o povo vê e sente e não ao que ouve e aprende. A cultura oral
deu certo ao longo de muitas gerações. A língua hebraica e a Torá foram
preservadas milagrosamente mesmo com toda dificuldade que este povo passou. Eles
entendiam a necessidade de sobrevivência da sua cultura e assim os pais
ensinavam aos filhos e estes aos seus filhos e assim sucessivamente. Cada um se
sentia parte do todo. Qual a dificuldade em continuar?
Hoje o miraculoso computador cerebral
se recusa a aprender o que lhe é inconveniente. Depois que as meias verdades começaram
a ser aceitas e o “isto não tem nada a ver” começou a andar de boca em boca, a
confusão generalizou. Cada um faz o que quer. Troca-se de igreja como se troca
de roupa. Aprender? Nem pensar. Tenho acompanhado de perto a dificuldade de
pastores que levam com seriedade o seu pastorado no discipulado do seu rebanho,
mas o povo anda indomável. Eles pensam, “já que a igreja é a casa do meu pai,
posso fazer o que bem entender”. Ledo engano. Neste contexto, não é apenas a diferença
entre as várias gerações pertencentes ao grupo, o problema é de sujeição à
autoridade imposta por Deus.
Após esta resumida exposição podemos
dizer que falta bastante equilíbrio nas situações destas áreas. Poucos se
preocupam em fazer um caminho para chegar ao outro. Os construtores de pontes
entre os corações afastados estão em escassez. O que vai ser das gerações futuras?
Que legado deixar para elas? E a tendência é piorar, pois ninguém dá o que não
recebeu.
Deus se fez um de nós, viveu a nossa
humanidade para nos entender como somos. Porém, nós não nos fazemos um do outro
para sentir as dificuldades; entender os tropeços sem apontar o dedo em rosto;
chorar as dores e sorrir as alegrias; servir de cura as dores da alma; carregar
no ombro se necessário for; perdoar as ofensas.
Quem vê alguma deficiência torna-se
responsável em divulga-la e supri-la. Tenho sido bastante incomodada com estas situações,
por isso mesmo decidi compartilhar. Espero ter sido útil e se quiserem falar
sobre qualquer dos assuntos, podem enviar comentário ou mesmo e-mail.
Obrigado.
Sejam grandemente abençoados.
Denise F Passos