sexta-feira, 25 de maio de 2012

Direito adquirido


Estávamos na Del Tech, na formatura dos  meus sobrinhos, Felipe (Microcomputers & Networking) e Artur (Airframe Maintenance Technology). Um momento muito aguardado por nós. Uma grande etapa vencida, e agora um novo desafio é colocado à frente. O que fazer com esta bagagem? O que fazer diante das oportunidades, que precisam ser conquistadas à base de muita luta?

Durante a cerimônia lembrei-me de um fato ocorrido na casa dos meus pais, no momento de despedida, próximo ao horário de embarque para a nova terra. O marido já estava aqui nos USA, servindo na Comissão Naval Brasileira em Washington DC, minhas filhas e eu, ficamos um pouco mais por causa do casamento do meu irmão. Ajoelhamos na sala da casa em Vaz Lobo e papai orou por nós. Meu precioso, amigo, pai e pastor; impôs as mãos sobre mim e disse: “Minha primogênita, eu te abençoo com a benção de Abraão”. Naquele momento eu não havia entendido ainda, mas aquela foi à última vez que vi, beijei e abracei o meu querido pai. Esta benção é a minha herança. Melhor do que se ele tivesse deixado milhões de Reais. Esta benção por incrível que pareça, tem nos acompanhado, seguindo de perto a nossa família. Não estou falando de dinheiro, mas de algo maior, estou falando de prosperidade. Ser próspero é ter ausência de necessidades. É poder repartir o pouco que tem nas mãos, com o próximo e na matemática divina quanto mais dividimos, mais Deus multiplica. É ter o favor de Deus dia após dia.

Longa caminhada, nesta minha vida de imigrante. Quanta dificuldade! Mas, quanto crescimento! Eu agarrei esta bênção como verdade para a minha vida. E quando as coisas estão muito difíceis, ou as conquistas parecem impossíveis, eu olho para o céu e digo: “Deus, o meu pai, Teu servo, que já está contigo, me abençoou com a bênção de Abraão, portanto, eu sou uma pessoa abençoada, onde quer que eu vá e, não abro mão disto”. A Tua Palavra diz, que o Senhor é o Deus protetor do órfão, da viúva e do imigrante, e eu estou incluída nestas três categorias.

Tudo que conquistamos foi à base de muita oração. Quando me lembro de cada uma, lembro também como foi difícil alcança-las. Num dos períodos, mais difíceis, o Dórea já estava bem doente, eu pegava às sete da manhã no trabalho, e ia direto para o seguido trabalho. No percurso, ia ouvindo meus hinos, cantando, orando e muitas vezes chorando. Só, eu e Deus. Voltava a casa depois das sete da noite para cuidar dele, dar banho, alguns afazeres, conversar um pouco, dormia a meia noite e ainda precisava acordar umas duas vezes durante a madrugada para esvaziar a bolsa da sonda. Por algumas vezes quando estava indo para o seguido trabalho, me peguei dirigindo do outro lado da pista, de tão cansada. A casa que Deus nos prometeu um ano antes de virmos para esta terra, serviu de provisão para os tempos difíceis. Sobrevivemos um longo tempo, as custa do dinheiro da venda da nossa linda casa, pois chegou o tempo que eu não mais pude trabalhar e precisei tomar conta dele. Deus cuida dos mínimos detalhes.

Assistindo a formatura do Felipe e do Artur, e em toda dificuldade que eles tiveram para chegar até aqui a este momento de glória; lembro-me dos vários personagens que foram imigrantes como nós e, Deus os fez bem-sucedidos em terra estranha. José foi governador do Egito, Ester foi rainha da Pérsia. Rute tornou-se latifundiária e, outros cuja história abrilhanta o rol dos valentes imigrantes, que lutam bravamente para ter um lugar ao sol.

Um imigrante não tem os mesmos direitos dos filhos da terra. Então, obter um simples documento torna-se algo muito difícil, ou quase impossível! E ao verem as dificuldades, muitos desistem e vão embora, se acovardam diante das situações.

Quantas vezes eu parei diante da janela da minha casa, olhando a paisagem e dizia a verdade bíblica: “Do Senhor é a Terra e a sua plenitude”. Então se tudo é Teu, Senhor, cuida de mim e dá o que eu necessito; dizia em minha oração.

A esperança é o combustível da fé.

O futuro está bem seguro nas mãos do Todo-Poderoso. Vim para este país, não para enriquecer, mas pela causa do Mestre. Para cuidar espiritualmente e emocionalmente as várias pessoas que, imigrantes como eu, mas sem a mesma força e coragem para vencer as dificuldades. Alguns foram abrigados em nossa casa, uma linda amiga que amo como filha, às vezes chagava e me dizia “eu vim pra colocar a cabeça no seu colo e você me fazer um carinho, enquanto ora por mim”, outros batiam à porta e diziam: eu vim aqui porque precisava de um abraço, ou de um bate-papo, companhia para o shopping, outros iam orar, outros foram visitados, outros precisavam de jejum e oração e alguns foram libertos de possessão. Enfim, cada um com a sua dor e solidão e eu fui aprendendo de Deus o remédio que cada um precisava. Aprendi a doar-me a cada necessidade ouvida. Ainda tenho muito a realizar. O campo é o mundo.

Se mais pessoas se doassem por outras, o mundo seria menos problemático. A grande maioria das pessoas necessita pelo menos de quem as ouça, sem olhar acusativo. O maior triunfo nisto tudo é ver o resultado do trabalho. Ver quem você ouviu, aconselhou, ajudou, doou, visitou, curou, emprestou, orou etc, andando com as próprias pernas e sendo útil Deus e a outros; isto é gratificante.

Já são três da manhã, estou cansada, mas feliz por compartilhar com vocês da minha alegria em poder servir a minha família que amo de paixão, aos meus irmãos em Cristo, aos queridos amigos e a tantos quanto Deus colocar no meu caminho. Servir, de qualquer forma possível, é uma benção. Pense nisto. “Lança o teu pão sobre as águas e depois de muitos dias o acharás” Eclesiastes 11:1. As pessoas que mais ajudaram ao meu marido quando esteve doente, foram justamente as que ele mais ajudou. E aqui vai o meu agradecimento ao Paulo Carvalho e a Dulcinéia.

Dulcineia, nossa filha de criacão e as netas queridas.




Ladeando o Dórea, a Marli e o Carvalho.





Deus nos abencoe!

Denise F Passos