quarta-feira, 21 de março de 2012

Medida do amor


 
Pensar em dar medida a um sentimento tão abrangente é o mesmo que tentar medir o volume de água dos oceanos do planeta. É tão vasto que não cabe em nossa realidade, apenas na imaginação. Enquanto crianças, o vôo livre das prisões permite a alma infantil percorrer longas distâncias, voar sem asa delta desafiando a gravidade, criar um mundo imaginário onde tudo funciona de forma mágica, onde o faz de conta funciona como realidade. Então crescemos e a nossa capacidade de racionalizar também cresce conosco. As distâncias a serem percorridas são mais limitadas, em vez de voar, andamos em terra firme e o mundo real onde vivemos, já não funciona a contento. E este vasto sentimento acaba confinado em um compartimento menor do que ele, moldado a situação imposta, apertado entre quatro paredes. Incapaz de desenvolver a sua total capacidade mostra-se, fraco, frágil, intolerante e na pior das hipóteses, passageiro. O pouco que escapa pelas fendas, enobrece a alma dos que o reconhecem, onde trabalha arduamente para aumentar estes orifícios, a fim de que se viva uma vida plena de amor.

O amor cantado em versos e descrito em sua totalidade faz o coração amante divagar; nos diferentes tons de suas cores, na beleza do lugar onde habita, na paixão que move estes corações ardentes, na busca incessante do outro para toda e qualquer demonstração deste amor. Mesmo que seja movido por doces ilusões e moldado em castelos de areia que em parte é levada pelo forte vento, este amor verdadeiro perdura não obstante as intempéries que avassalam terrivelmente na tentativa de destruí-lo. Forte como a morte, ele traz em si múltiplas marcas e, doloridas úlceras, das férias abertas, que o amigo tempo ainda não curou.

Este nobre amor, não é um mero sentimento, mas, o grande mandamento, que influencia todas as áreas da vida. Sem olhar cor, beleza física, posição social, conta bancária, cultura, ele vem de mansinho, chega pra ficar; aquecendo as relações conjugais, familiares, as grandes amizades de todo àquele que se permite atingir por ele.

O ser humano foi criado com uma forte necessidade de amar. Uma pesquisa com bebês recém-nascidos, que foram tirados do seio materno e alimentados artificialmente, recebendo apenas cuidados para manterem-se vivos, sem nenhum outro contato físico que envolvesse amor de espécie alguma, constatou que estes bebês atrofiaram-se, regredindo tanto que estavam fadados à morte. Em resumo, o ser humano foi criado para viver em amor com os seus semelhantes. O amor traz vida e a mantém. E porque em vez de vivermos em amor, sempre damos um jeito de complicar as situações? Será que desestabilizar o relacionamento, para que este amor seja testado é regra contratual? Porque a cada dia que passa o amor parece mais egoísta, preocupado consigo mesmo em vez do outro?

Em I Coríntios 13 temos a descrição do verdadeiro amor. Ele é paciente, bondoso, não é ciumento, não é orgulhoso, não é vaidoso, não se conduz de forma inconveniente, não é egoísta, não fica irritado, não guarda mágoas, não se alegra com a injustiça, mas alegra-se com a verdade. O amor tudo crê, tudo espera, tudo suporta. Linda descrição, que parece pertencer a um mundo distante do nosso. Parece surreal diante da forma como sabemos amar. Mas, o problema não é do amor, e sim o fato de que somos incapazes de lidar com esta forma tão abrangente e pura. Nossa natureza corrompida nos impede de dar prosseguimento em amar cada dia mais, até que este amor nos enobreça de tal forma que vivamos em absoluto amor.  

Podemos resumi-lo em paciência, bondade e alegria. Três qualidades fundamentais ao ser humano que deseja pautar a sua vida no amor; sem elas o amor se extingue do coração. Dentre outras oito que descrevem o que ele não é. O amor não é ciumento, não é orgulhoso, não é vaidoso, não se conduz de forma inconveniente, não é egoísta, não fica irritado, não guarda mágoas, não se alegra com a injustiça. E quatro que descrevem sua ação totalitária, pois tem parte com a verdade. O amor tudo sofre, tudo crê, tudo espera, tudo suporta. Encerrando com a afirmativa de que o amor uma vez começado, jamais acaba. Esta passagem é base para tudo o que se tem escrito, falado, discutido, sentido e vivido acerca do amor; colocando-o acima de tantas outras coisas que achamos de suma importância. No topo de tudo que deve permanecer em nós; maior do que a fé e a esperança, o seguimento do amor norteia nossos passos para uma vida de maturidade. Por este fato, Jesus resumiu o mandamento dizendo em Lucas 10:27, “Amarás ao Senhor teu Deus de todo o teu coração, e de toda a tua alma, e de todas as tuas forças, e de todo o teu entendimento, e ao teu próximo como a ti mesmo”.

Certo dia, Sueni, minha filha do meio, estava sofrendo com terríveis cólicas menstruais, num exato momento gritou, chamando-me ao lavabo, onde estava ajoelhada vomitando bastante, então abaixei a seu lado, sentei no chão e puxei-a para o meu colo. Enquanto chorava de dor, apertei-a contra o meu seio dizendo em tom suave “mamãe está aqui”. Isto parece irrisório diante daquela dor insuportável. Naquele instante, numa divagação de pensamentos, fiz uma pergunta a Deus. É assim que e o Senhor me ama? De modo que quando eu estou em dor, tu me pegas no colo e me amas de um modo especial, mesmo que eu não me dê conta disso? Sei que teus fortes braços estendidos para criar o universo, arremessaram cada planeta em sua órbita, foram os mesmos fragilizados na Cruz, no ato de amor que mudou nossa história e são os mesmos que me envolvem quando a dor chega, fazendo-me sentir segura, bem protegida. Um amor que atravessa a eternidade, passa pela graça conduzindo-a ao homem, que consola docemente e ainda assim não se pode medir; medi-lo é o mesmo que limitá-lo.

Este amor imensurável deseja fazer parte do nosso cotidiano, de forma real, não apenas dos versos nos belos poemas, nas cartas de amor, nas declarações esporádicas, nas celebrações, no nascimento e na morte. Ele é vivo, real, presente e gratificante. Mas, quem ama a Deus e ao seu próximo como a si mesmo, descobre a fórmula do bem-viver. Paga um alto preço para viver e continuar vivendo em amor, pois na verdade, tomar a cruz é o ato de amor.
Deus nos abençoe com Seu amor.

Denise F. Passos