sexta-feira, 29 de junho de 2012

Alma desidratada


Numa das visitas a Natal, Rio Grande do Norte, fomos passear na praia de Ponta Negra e resolvemos subir o Morro do careca, que está localizado no final da praia. É um belo lugar. Cartão postal do estado, cujo morro é muito íngreme, de areia branquinha, com vegetação apenas nas laterais, por isso recebeu este nome. Gosto muito de aventura e estava animada para esta. Começamos a subir. Às vezes parávamos para tomar um pouco de fôlego, admirar a paisagem e observar as pessoas que subiam e desciam. Chegando ao topo, nos sentamos para ver a beleza do mar, observando os detalhes até as vistas não alcançarem mais. Atrás de nós a grande faixa de areia parecia interminável. Resolvemos então aventurar uma caminhada até a praia do outro lado da duna. Eu estava animada com a novidade. O mar do outro lado era violento e fechado com cerca de arame farpado, de forma que ninguém podia arriscar um mergulho. Hora de voltar.

Demos meia volta e começamos a caminhar lentamente. Porque todo caminho de volta é mais difícil? Será pelo término da novidade? O calor era intenso e a sede nos pegou de uma forma terrível. Os lábios colavam e a pressão arterial com certeza deve ter caído bastante, de forma que meu cunhado e o seu irmão tiveram que me auxiliar. Um de cada lado segurando os meus braços. Nunca senti tanta sede, nunca a água me pareceu tão preciosa. Cada passo dado parecia uma grande conquista dos pés que se arrastavam. Finalmente chegamos, bastava descer. Mas ao olhar para baixo vi que as pernas pareciam ter ficado na praia lá atrás. Não tinha mais forças e precisava urgente de água.

Sentei e olhei a imensidão de água salgada a minha frente. Lembrei-me do versículo: “E não tinham sede, quando os levava pelos desertos; fez-lhes correr água da rocha; fendeu a rocha, e as águas correram. Isaías 48:21

Água era tudo que eu precisava, mas aquela água me causaria um mal terrível. Uns poucos goles bastariam, mas a nossa barraca estava longe demais. Lá, o cooler estava cheio de água bem gelada, suco e refrigerante, além de frutas tropicais. Neste ínterim meu pensamento foi irrompido por uma doce figura, como a de um anjo salvador com a seguinte pergunta: Você quer água? Está com sede? Eu estou vendendo água gelada. Quero sim, mas não trouxe dinheiro comigo e a barraca está bem distante, respondi com os lábios colando nos dentes. Não tem problema, alguém vai com você e pega, dinheiro. Oferecemos este serviço, quase ninguém vem preparado para pagar.

Quando aquela mulher me deu a garrafa de água, estava me dando vida e naquele exato momento eu nem pude avaliar o valor do gesto. Agradeci e abri a tampa. Joguei um pouco de água no rosto, molhei os pulsos e então bebi até me fartar. Que água deliciosa! Desceu corpo à dentro hidratando todo o meu interior. O cérebro parou o sinal de alarme de perigo e as células ganharam vida nova. O corpo se regozijou outra vez com uma simples, porém vital, quantidade de água.

Hoje pela manhã, lembrei-me deste episódio ao ler o versículo do dia da Bíblia on line. “Mas, aquele que beber da água que eu lhe der nunca terá sede, porque a água que eu lhe der se fará nele uma fonte de água que salte para a vida eterna. João 4:14.

Sei que o simples fato de descer aquele morro aos pulos por causa do seu formato íngreme e sob os fortes raios solares, me daria sede outra vez. A sede natural nunca acaba, é repetitiva, pois a água se esvai facilmente do organismo que é composto de líquido em sua maior parte.

Jesus, um homem livre do preconceitos.

Quando Jesus pede água à mulher samaritana, ela também estava sob um sol causticante, pois era o meio do dia, período em que as pessoas chamadas “de bem” não estariam lá. Sua reputação não era das melhores. Mulher que viveu com muitos homens e na época do episódio vivia com um homem que não era seu marido. Jesus não estava nem aí para o que as “pessoas de bem” iriam pensar. Ele decidiu suprir a necessidade de sede interior daquela mulher, como também do seu povo. Tenho certeza que o seu modo de vida a afligia, senão a revelação de Jesus não teria impactado do modo como impactou. Caso contrário ela perguntaria: O que o senhor tem a ver com a minha vida? Mas, ao contrário ela apelou para o bom senso dele.

Jesus pediu água, mas não disse que estava com sede como o fêz quando estava na cruz. Ele se humanizou ainda mais quando sentiu a necessidade daquela pobre mulher discriminada por todos. Ele sentiu a sede do seu coracão. Pedindo água, Jesus estava demonstrando a importância dela a frente de uma necessidade dele, que ela poderia suprir. Fazendo aquela mulher discriminada por todos, sentir-se útil. Deus não nos pede coisas absurdas, ele pede dentro das nossas limitações, capacidade e necessidade. Desta forma ele a abordou. Enquanto todos a escorraçavam, ele a amou. O poço estava lá, a água estava lá e, a mulher foi preparada para tirar a água. Qual a nossa reação, quando encontramos pessoas consideradas impuras, que sofrem as terríveis dores da alma; abracamos, ou escorraçamos, achando que somos melhores?


Como sendo tu judeu pedes água a mim que sou mulher samaritana? Os samaritamos eram meio aparentados com os judeus, mas havia um ódio mortal entre eles, de modo que era comum dar uma volta enorme para não passar por Samaria e ter que cruzar com aquele povo indesejado. Na verdade ele estava conduzindo a situacão de modo que ela sentisse a nscessidade de purificacão. É mais fácil ver o que está faltando na vida do vizinho, em vez de olhar para a própria necessidade.

“Ah! Se você soubesse quem fala contigo”... O mesmo acontece hoje. Quantos servem a Deus há tanto tempo, anos a fio e, não conhecem a voz de quem fala ao coracão insistentemente: “Dá-me de beber; apascenta as minhas ovelhas; hoje me convem pousar em tua casa”... A voz que bradou a pouco mais de dois mil anos é a mesma. Clama pela necessidade de ver o Reino espandido, mas em verdade pensando na necessidade particular, tormando cada um, prioridade em seu Reino.

Hoje, Deus se preocupa com um tipo de desidratação que ocorre em sua igreja. Crentes visivelmente sedentos, desnorteados, semblante caído, cambaleantes, talvez, sem nunca ter passado perto da fonte de água viva prometida àquele que crê. Esta fonte é inesgotável. Está a disposicão de todos. Não diminui o volume quando os problemas chegam, porque o nivel é automático. Atente para o detalhe do versículo. A água é que faz a fonte. Primeiro precisa haver água, e a abundancia dela, torna-se fonte, permanente, não acaba. Ao contrário, cesce tanto em volume, que salta para a vida eterna.

Na sequencia da história, a mulher fica interessadsíssima em obter esta fonte. Já estava cansada do esforco de ir buscar água no calor do meio-dia. Jesus atingiu o foco do seu problema. Ele sabia que o cansaco de uma vida considerada leviana, era maior em sua alma do que o cansaço físico pela sede natural. Às vezes nos contentamos em ir à igreja e beber copos d’água dominicais, achando que assim matamos a sede do espírito que naturalmente busca relacionamento efetivo com Deus. A tendencia é tapamos o sol com a peneira achando que tudo vai bem, enquanto há saúde sobra, a conta bancária está alta, a maquigem que arranjamos para a vida é a de melhor qualidade e ninguém percebe o sofrimento, mas a alma tem sede...

Deixando o lembrete, de que “a sede, já é o corpo pedindo socorro pela falta do líquido precioso”, lanco a seguinte pergunta: Quão sedenta está a nossa alma? Há em nosso interior água o suficiente para fazer jorrar fonte de água viva? Se há fonte jorrando, ela está crescendo em volume de forma a saltar para a vida eterna?

Deus nos abencoe com fonte de água viva em nosso interior!!!


Denise Figueiredo Passos