quarta-feira, 22 de agosto de 2012

Desafiados a pescar


Alguns meses atrás, minha amiga Celymari, teve folga no trabalho e me convidou a pescar. Ainda estava bastante frio, mas o casaco com um grosso capuz foi o suficiente para me manter aquecida. Peguei a minha vara de pescar, exclusiva para canhotos, que, para mim não funciona muito, pois sou ambidestra e fomos comprar as iscas numa loja perto de casa. Tudo preparado, partimos para o local que eu não conhecia ainda e, portanto não sabia o que me aguardava. Chegamos perto do canal de Rehoboth Beach, o céu estava nublado, ventava um pouco e ao longe podíamos ver a barca de passageiros retornando a New Jersey. Caminhamos até chegar a um braço de pedras construído mar à dentro, onde tínhamos que andar fazendo malabarismo, pulando de pedra em pedra, até chegar ao lugar onde a água era mais profunda.
Quando olhei aquelas pedras desencontradas e para os meus cinquenta e três anos, disse para mim mesma, “você consegue garota”. Segurando a vara numa das mãos, a sacola no ombro e não tendo onde me apoiar, fui aventurando, fazendo a melhor escolha, em qual pedra pisar. Minha jovem amiga foi na frente e às vezes olhava para traz perguntando se estava tudo bem e eu respondia: Sua juventude lhe favorece; eu vou um pouco mais devagar, pois o equilíbrio já não é o mesmo. Não se preocupe que eu chego até você. Enquanto saltitava nas pedras fiquei pensando que na vida, também precisamos escolher bem os passos a serem dados. Um passo em falso é queda na certa.
Local escolhido, paramos para colocar as iscas. Ela pegou mariscos que estavam encrustados por entre as pedras, os abria com a faca e os colocava nos anzóis.
A força para lançar a isca, a linha livre de embaraços, e o peso do chumbinho, determina o quão distante da borda vai ser lançada aquela pequena isca, ainda viva; que mergulha para uma incógnita. Por não ver o que tem na profundeza da água o pescador conta com a sorte, sem nunca perder a esperança de pegar um grande peixe; ele insiste e insiste.
Enquanto a isca está submersa, os olhos se voltam para a paisagem e os pensamentos começam a divagar. É um excelente momento de relaxamento, proporcionando prazer a alma que vive em busca da natureza. O homem foi criado para viver nela; pena que não a respeite tanto.
Fiquei pensando, quando os discípulos de Jesus pescaram a noite inteira e, exaustos de tantas tentativas frustradas, voltaram de mãos vazias, sem pegar um peixe sequer. Porém, o mestre que conhece a necessidade de cada um os levou ao lugar certo, pois conhecedor de tudo, ele sabia onde os peixes estavam.  Eu estava naquele lugar por diversão, mas certamente não era o caso dos discípulos. Eles tinham família para sustentar com o suor do rosto. E a pesca certamente seria o alimento na mesa, além da comercialização, para suprimento de alguns dias.
O cuidado do Mestre sempre chega na hora certa. Às vezes parece tardar. A exaustão que toma conta, diz que não adianta esperar mais. Mas, há o tempo certo do favor de Deus chegar. Não temos noção de quanto o nosso enganoso coração, precisa ser provado, para saber reconhecer a bondade e misericórdia de Deus em Sua provisão diária. A provisão divina vai além, de comida na mesa, de vestuário, de um teto, pois até o ar que respiramos é provido naturalmente por ele. Não fazemos ideia da organização que as células precisam ter para manter o equilíbrio, a fim de estarmos saudáveis e ativos. Tudo criado de forma sincronizada, funcional e harmônica. Perfeito, como tudo que Deus faz.
Quando os discípulos retornaram cansados da frustrante pescaria e cabisbaixos lavavam as suas redes, Jesus chega e pede a Simão que se afaste um pouco para que a sua voz alcance a multidão que se formou ao longo da praia. Ele poderia dizer: Sinto muito, mas eu vou para casa dormir, estou exausto. Mas, ele atendeu ao pedido, não obstante o cansaço. As pessoas que compunham aquela multidão, não poderiam ser despedidas vazias, por causa do cansaço de alguns homens.
Talvez tenha parecido brincadeira, quando, depois de falar a multidão e não sabemos por quanto tempo o Mestre ensinou; Jesus simplesmente disse: por favor, agora eu quero ir pescar. Fico imaginando a expressão assustada de Pedro ao ouvir aquela frase. Não bastou falar por tanto tempo, agora quer que eu volte para o alto mar? Mas, ele venceu sua maneira franca e apenas concordou, dizendo: “Mestre, nós lançamos estas redes durante toda a noite e não pegamos nenhum peixe, mas sob Tua Palavra, nós as lançaremos outra vez”.
Tentar com os próprios esforços raramente dá certo, quando a questão envolve o Reino de Deus. Aparentemente até pode parecer que sim, mas os valores de Deus são diferentes dos nossos. Todo edifício que erigimos com nosso próprio esforço, pode ruir repentinamente por falta da base correta.
Jesus os conduziu para o local onde havia um enorme cardume de grandes peixes. Pegaram tantos peixes que as redes estavam fendendo com o excessivo peso. Foi necessário pedir ajuda de um barco que se encontrava por perto, para que não fossem a pique.
O caminho da obediência sempre é recompensado. Todos ficaram tão maravilhados e com o coração cheio de temor por causa do milagre da pesca maravilhosa. Foi quando Jesus deu a boa notícia a Pedro. “Não se preocupe, de agora em diante eu vou te fazer pescador de homens”.
Aquela foi uma amostra de quão produtivo seria o ministério de Pedro. Ele foi um dos mais próximos de Jesus. Acompanhou de perto, muitos milagres e a transformação de vidas. A igreja de Cristo deu o pontapé inicial com o ímpeto deste homem, que uma vez negou o Mestre, abandonando-o na pior hora. Porém, deferente de Judas que perdeu a sua vida, ele a deu inteiramente a causa do Reino. A negação de um momento não obscureceu o trabalho de uma vida inteira dedicada ao Reino de Deus. Por isso devemos amar como Deus ama, e perdoar como ele perdoa. Desta forma estaremos aptos a sermos grandes pescadores de homens e não destruidores deles.
Deus nos abençoe com excelente pesca!!!
Denise F Passos

quinta-feira, 16 de agosto de 2012

Histórias que se repetem


Em setembro do ano passado fomos ameaçados por um tornado que veio do Caribe de forma contundente, machucando o sossego por onde passava. Dias antes estava viajando de Washington para New York, com a minha amiga Loide e vimos um movimento estranho no ônibus. O passageiro da poltrona ao lado levantou-se e perguntou ao motorista se conseguia comunicação com a central para saber se a notícia que tinha chegado a ele era verdadeira. Minutos antes eu senti um balançar do ônibus, e um efeito como uma tonteira, e instantaneamente lembrei-me do terremoto em João Câmara há muitos anos atrás.

Estávamos de férias na casa da minha irmã em Natal, RN, já deitados para dormir. Eu e as minhas três filhas que ainda eram crianças, numa cama improvisada no tapete da sala, descansamos depois de um longo dia de atividades, de forma que o meu ouvido estava praticamente no solo, pois para pegar no sono viro de bruços e retiro o travesseiro. Enquanto o sono não chega costumeiramente, falo com Deus, mesmo tendo orado antes de deitar. Estava num papo agradável, quando caí na asneira de pedir que Deus falasse comigo, duvidando que ele estivesse me ouvindo, afinal tanta gente ouve a voz de Deus, porque eu não poderia?

De repente começou a surgir um barulho, como um grande urro, vindo de dentro da terra e crescia com intensidade tal, movendo tudo ao redor. Um som que me paralisou terrivelmente. Levantei assustada, olhei as crianças que nem se deram conta do que estava acontecendo. Nesse instante, meu cunhado, Marcelo, saiu pulando do quarto e gritava: Denise é terremoto, Denise é terremoto... E a gente não sabia o que fazer e enquanto eu ensaiava pegar as crianças olhei para cima e pedi perdão, prometendo a Deus que, jamais duvidaria que estava sendo ouvida por ele.

A central da empresa rodoviária confirmou que houve um terremoto na intensidade de 5.8 no estado de Virginia, bem perto de onde estávamos. Todos no ônibus tentando falar com seus parentes para saber se tudo estava bem, e graças a Deus nada de grave havia acontecido. Escapamos do terremoto, porém do furor do tornado era difícil escapar. O canal do tempo se encarregava de aterrorizar e dizer as pessoas para se prevenir com bastante água e comida não perecível. Loide e eu voltamos para Maryland na sexta-feira de madrugada e a nossa oração era para que aquele tornado por nome Irene tomasse a direção do mar.

De igual modo aconteceu há alguns anos atrás quando o furacão Isabel passou por nosso estado e nem foi num tão grau elevado. Lembro de ter deixado o trabalho mais cedo e passado no mercado para estocar alimento e água. O vento já era forte. O Bobby, nosso cachorro, olhava para a coleira e olhava para a porta, olhava para a coleira e olhava para a porta, com vontade ir atender as suas necessidades, mas quando abríamos a porta ele voltava com medo do vento. Forcei-o a ir e, acho que ele nunca as fez tão rápido, nem escolheu lugar apropriado. Foi a nossa primeira experiência com este tipo de intempérie da natureza. Um furacão quando recebe um nome feminino é porque vem para arrasar.

As pessoas ligavam umas para as outras para passar um pouco de calma, esperança e confiança na bondade de Deus. Muitos queriam ir ter conosco para juntos enfrentarmos a tormenta. Minha enorme casa era de esquina, ao lado de um lindo bosque e as grandes árvores nos ameaçavam. Quando anoiteceu nos reunimos em família e oramos para que Deus guardasse a nossa vida, guardasse a nossa casa e não nos deixasse sem luz e água.

Em sua grande maioria, as casas nos Estados Unidos são feitas de madeira, para calafetar melhor por causa da discrepância de temperatura entre o verão e o inverno. A madeira trabalha melhor a temperatura, mas por outro lado é mais frágil. A casa rangia com o vento forte, sentíamos o movimento da madeira se contorcendo e o medo nos rondava a cada rangido. Num dado momento, logo após o noticiário avisar que o tornado passaria em Silver Spring, a cidade onde morávamos, meu cunhado Marcelo que morava conosco, levantou-se e disse: Vamos ordenar a este tornado que tome outra direção, porque Deus já deu a voz de comando. Então nos reunimos outra vez, clamamos ao Senhor e em nome de Jesus ordenamos ao Furacão que tomasse outra direção.

O vento não tinha cessado ainda e era madrugada. Fizemos uma cama enorme na sala, para não ficarmos na parte de cima da casa e nem no basement, (porão) e assim permanecermos juntos. Assistimos ao noticiário nos intervalos de alguns filmes apenas para desopilar. Já que estávamos todos lá, resolvemos dormir em família e até o cachorro, Bobby Passos insistiu em participar.

No dia seguinte, vimos o resultado da forte ventania. Galhos de árvores espalhados, grandes e pequenos, a grama coberta de folhas e ainda encharcada. Algumas casas foram atingidas e pessoas morreram por causa das árvores que caíram. A água não faltou na torneira e quando a noite chegou pudemos constatar que a nossa, era uma das poucas casas que não faltou energia elétrica, que só veio a normalizar depois de quatro dias. Soubemos depois que lamentavelmente o furacão fez muito estrago no estado vizinho.

De forma que quando o furacão Irene passou, nos prevenimos com água e alimentos, mas o medo não nos assolou. Eu e minha filha Sueni, estávamos sós em casa. E da mesma forma na experiência anterior, oramos e pedimos que o furacão se desviasse para o mar, então dormimos em paz durante toda a noite. Agora com a família reduzida, espalhada e sem o cachorro, tivemos que contar com Deus e uma com a outra, mas sobrevivemos pela misericórdia dele. Neste dia uma das casas perto da casa da minha irmã, teve o telhado literalmente arrancado pelo furacão.

Assim também são as tempestades que vem para destruir o que há de melhor em nós. A gente não vê o vento, mas percebe o seu movimento que desarrumando a vida, tira tudo do lugar, tudo o que planejamos; tudo que construímos. Mas, o Deus que intervêm nas intempéries naturais é o mesmo que nos livra da fúria das tempestades e nos dá autoridade para dizer ao vento: Aquieta-te.

Mesmo que para o nosso crescimento, seja necessário, o Senhor nos convidar a andar ao encontro dele sobre as águas, a fim de conhecermos a intensidade do perigo, até então apenas visualizado e, só assim experimentarmos a total dependência; ele o fará. O senso de humor de Deus é fantástico, quando nos empurra em direção ao crescimento.

Tem gente que serve a Deus há muito tempo e ainda é convidada a andar sobre as águas. Quando recusa o convite repetidas vezes, o balanço das ondas o projeta nas águas, num mergulho sufocante, para a profunda experiência que se propõe unicamente ao aprendizado. Toda teoria que aprendemos no conhecimento de Deus será valiosas nestes momentos. As duas precisam se fundir para um melhor resultado na vida cristã. Teoria e experiência. Elas completam a nota, no boletim, das provas a que somos submetidos, para a passagem de nível na carreira cristã. Às vezes as histórias se repetem e se entrelaçam parecendo tão confusas. Mas, elas acontecem como uma chance para nos aperfeiçoarmos, naquilo que fomos mal sucedidos anteriormente.

O Senhor não retira o mal. Até que aprendamos que o Mestre está sempre perto, ao alcance da nossa voz e a dependermos dele; o mal continua presente. Basta estender a mão em sua direção e clamar por socorro. O coração do Senhor Jesus, está ávido a se mover de compaixão para voltamos a ter segurança completa, mesmo em meio à tempestade. Não é seu desejo nos ver inseguros. Mas, tão certo como DEUS É, há um tempo, em que Ele ordena e o vento e as águas revoltas são obrigadas a obedecer e a acalmar. Nenhuma tempestade dura para sempre. Elas são esporádicas.

Portanto, coloque a sua fé em ação... O Mestre está perto, ao alcance da sua mão. Clame - insista - não desista.



Deus nos abençoe com uma vida de paz!!!

Denise F Passos