sexta-feira, 25 de fevereiro de 2011

A geladeira e o cinto de segurança

      Hoje no almoço em família, estávamos conversando sobre as grandes necessidades que já passamos na vida. A falta que tivemos de utensílios que não são um luxo, mas uma grande necessidade. Falamos da falta que fazia um simples ventilador quando não tínhamos dinheiro a não ser para as necessidades básicas. Então eu perguntei se eles já possuíram uma geladeira com cinto de segurança. É claro que responderam, não. Pois, é eu tive uma dessas lá em casa, e foi graças a ela que eu tive uma das grandes experiências no meu crescimento com Deus.
     Meu apartamento tinha a cozinha pequena e a geladeira amarela ficava perto do tanque e o varal em parte acima dela. O piso era desnivelado, o que concorria para que a borracha que já não andava das melhores não vedasse completamente deixando escapar o ar gelado. Conclusão, a porta do refrigerador precisou ser amarrada com a alça de uma destas bolsas para viagem.  Idéia excelente que nos proporcionou um tempo maior no aguardo da nova geladeira duplex.
     Num determinado fim de semana eu fiquei encarregada de levar maionese para o almoço da igreja. Eu e a saudosa irmã Maria (acho que em todo lugar tem uma preciosidade destas) antecipamos cozinhando os legumes na noite anterior por causa do culto matutino. No dia seguinte, após o café da manhã estávamos lá, preparando uma deliciosa maionese caseira que só ela sabia fazer. Quando retiramos os legumes percebemos que estava com cheiro esquisito, pois, alguém durante a madrugada bebeu água e esqueceu-se de vedar bem a porta da geladeira. Não se preocupe, disse ela, estão consistentes, isto não é nada. Mas à medida que lavávamos parecia que não adiantava muito. Ficamos preocupadas. Não dava tempo de comprar outros, descascar, cortar e cozinhar novos legumes, também, não tínhamos dinheiro para fazê-lo. Qual a saída?
     Deixei a irmã Maria às voltas com a cozinha e fui para o meu quarto orar. Dobrei os joelhos, coloquei o rosto no assoalho e clamei ao Senhor, contando a situação que ele já bem sabia e pedindo uma solução. Pedi que se houvesse algo que pudéssemos colocar na lavagem para cortar todo cheiro e efeito que ele nos indicasse, já que é conhecedor de todas as coisas. Imediatamente, no pensamento me veio à palavra “bicarbonato de sódio”. Terminei com agradecimento me dirigi para a cozinha e perguntei se ela sabia para o que serve bicarbonato de sódio, pois, eu usava apenas para limpar e retirar cheiro do refrigerador. Ela me disse que servia para muitas coisas, inclusive se uma pessoa estivesse com congestão por causa de alimento cortava o efeito. Ok, disse eu, é com isto que vamos lavar a batata e a cenoura. Foi exatamente o que fizemos. E depois de escorrido colocamos o delicioso tempero e oramos ao Senhor, entregando aquela situação.
     Hora do almoço. Cerca de cem pessoas almoçaram naquele dia. Após a sobremesa conversamos um pouco e fomos arrumar a cozinha e guardar as sobras. Por volta das três horas da tarde uma jovem que havia chegado do trabalho perguntou se ainda havia almoço e começou a colocar a sua refeição, quando alguém disse: Pega maionese, está na geladeira. Ela virou-se, abriu a porta pegou a vasilha e quando foi colocar sobre a mesa caiu no chão e dali para o lixo.
     O fato de termos aquela iguaria apenas para o horário do almoço e nada mais, me fez repensar num Deus sempre presente. Atuante na hora da real necessidade. Quando eu não enxergava saída alguma, fadada a desistir e sofrer a vergonha de chegar com as mãos abanando, ele estava lá, pronto a agir e atender a sinceridade do meu coração. É sempre assim quando nos debruçamos sobre a fé. De uma forma ou de outra a resposta vem.
     Deus se importa com uma simples maionese? A resposta é sim. Você e eu somos importantes para ele e tudo que envolve a nossa vida também é. Por causa das aflições quotidianas e o longo período de sofrimento que nos assola, a tendência é achar que Deus, o Todo-Poderoso, está assentado no trono do universo assistindo de camarote sem importar em nada com a nossa vida.  Um Deus que diz que me ama, pode me deixar passar pelo estado de penúria? A resposta também é sim. A Bíblia diz que Deus não poupou o seu próprio filho, por uma causa maior, a nossa redenção.
     Confiamos em Deus e sabemos do seu grande poder, isto é certo. Cremos num Deus que faz milagres como os descritos na Bíblia. Mas há uma distância entre crer neste Deus poderoso que fez tais milagres e crer ao ponto de permitir que Ele seja este Deus poderoso e presente na minha e na sua vida. Que realize tais proezas em mim e através de mim, em você e através de você.  Esta é a diferença crucial da qual não nos damos conta. Vivemos um cristianismo pobre, de um Cristo ainda pregado na cruz, cujas mãos estão presas e não pode fazer nada pelos que crêem nele. Tal qual Zeus mostrado em arte no Museu do Louvre com seus braços amputados não podendo cuidar de si mesmo, que dirá reger o Olimpo.  
     A fé nos conduz pelo caminho do crescimento de experiências com Deus. A falta dela também nos conduz a um caminho, de forma inversa. A incredulidade quando instalada nos deixa como autistas em relação a tudo que diz respeito à fé em Deus. E quando o estado se agrava vira catatonia plena. Neste estágio, o cristão não ouve, não aprende, não cresce, não produz. O corpo até vai, mas a mente não acompanha. Fadado a letargia, ainda contamina a outros com toda a negatividade.
     Eu e você somos mais importantes do que uma simples maionese. Se Deus se importa em suprir para uma refeição o que não fará quando colocarmos a fé em ação nos grandes embates da vida. Nos casos de vida ou morte, onde só a intervenção divina pode solucionar o problema. Busque uma fé atuante, crescente, inabalável, pois, sem ela é impossível agradar a Deus. Esta busca deve ocorrer diariamente, nas mínimas coisas, e quando as grandes se apresentarem estaremos prontos para enfrentá-las de frente e vencê-las.
     Deus nos abençoe.
     Denise F Passos