segunda-feira, 12 de setembro de 2011

APROVEITANDO A OPORTUNIDADE

Na manhã de sábado, eu estava preparado o almoço, enquanto Giuliana, a minha neta de um ano e meio de idade, se distraia com um brinquedo qualquer sentada no chão da cozinha. Revirava-o de um lado para o outro, sacudia, observava as cores, quando de repente o olhar se voltou para o armário ao lado da pia, cujas portas ainda estavam abertas pelo fato de não ter sido encontrado o que se procurava nele. – “Vovó voltou para o fogão, acho que não encontrou o que estava procurando, vou ajudá-la”. Mais que depressa engatou a primeira e disparou engatinhando em direção à nova descoberta, sem perder tempo com o ensaio dos passos ainda lentos.

Ao chegar àquela que no momento comparava-se a oitava maravilha do mundo, esticou a minúscula perna e subiu na prateleira do armário. A mãe que a observava de longe se aproximou, não para retirá-la do local, mas para protegê-la de uma queda. “Quanta coisa diferente neste lugar!... Muitas caixas, pacotes, além de vasilhas plásticas contendo alimento. Que legal! Esta é uma grande descoberta. Nem sei por onde começar. Sou excelente desbravadora!”

Após alguns minutos de festa, Suelen a mãe dedicada, disse a Giuliana: Não, filha, já chega. Quando percebeu que seria retirada do armário, olhou para baixo a fim de calcular a altura, engatou a ré e desceu lentamente até alcançar o chão. Sentou, olhou para nós, que observávamos atentamente a proeza, deu um largo sorriso como se dissesse: Yes, consegui!

A vida oferece novidades a todos nós. As oportunidades aparecem todos os dias, em todas as fases da vida e de forma diferenciada, porém muitas passam batidas, porque não avançamos para desbravá-las. O medo de alcançar o que de longe parece inatingível, nos impede de chegar mais próximo para avaliar as possibilidades. Daí, continuamos a brincar com aquilo que está nos entretendo absorvendo assim toda a nossa atenção. O pensamento é o seguinte: - Já tenho este aqui. Para que nova distração?

O grande erro na sociedade atual, principalmente da juventude, é arranjar apenas com o que se distrair, não com o que se enriquecer. Perdem tempo precioso. Tempo irrecuperável, onde só a maturidade trará a consciência dos danos. Para que se enriquecer de conhecimento, se nos vídeo games da vida ganhamos todas? Somos os mais valentes, os mais fortes, os mais espertos e estratégicos e criamos oportunidades de passar em todas as fases dos jogos por mais difíceis que sejam. Nos jogos virtuais somos persistentes e não aceitamos não como resposta. A vida é um jogo real, onde é impossível mexer botõezinhos na luta diária pela sobrevivência. Conquistar posições requer esforço, habilidade, conhecimento, talento, inteligência, tudo ao vivo e em cores.

Quando olhamos um bebê de apenas um ano e um mês dando uma grande lição em questão de oportunidade, deveríamos parar e, repensar no que estamos fazendo da própria vida. Afinal, a disputa é grande e a fila anda com muita rapidez. Se, paramos ou atrasamos o passo, ficamos alienados e fora do contexto atual, perdidos no tempo e no espaço, por vezes, irrecuperável.

As crianças são destemidas e ávidas pelo descobrimento. E este arrojamento é mais frequente quando o adulto ainda não lhe passou os perigos que a vida oferece. Perigos inevitáveis que vem junto no pacote de vida de todo ser humano. A dificuldade dos dias atuais remete o indivíduo a ter medo do próximo, medo do desconhecido. O adulto deve atentar de que o excessivo cuidado com tudo e todos pode se transformar em neura e assim deixar escapar toda a singeleza do bem-viver.

O quotidiano oferece a todos a oportunidade de tornar-se uma pessoa melhor, mais atenta, mais feliz, mais participativa. E uma pessoa melhor vive mais e intensamente, não busca crescer com a oportunidade que a vida oferece ao outro, não faz do outro a escada para galgar posições, não cobiça a lavoura do vizinho, por se achar incapaz de produzir por si próprio, mas com humildade, busca aprender com sua maturidade. Cuida do bem-estar alheio a partir da paz interior. E assim, e apenas assim, pode cumprir o resumo dos mandamentos que Jesus nos ensinParte superior do formulárioouParte inferior do formulárioAmarás ao Senhor teu Deus de todo o teu coração, e de toda a tua alma, e de todas as tuas forças, e de todo o teu entendimento, e ao teu próximo como a ti mesmo”.

Amar a Deus é viver a essência da qual viemos com inteireza de coração, na integralidade da alma, com toda força interior, buscando todo o entendimento sobre ele; amar ao próximo é não impor condições para amar e amar a si mesmo é fazer bem a si, no corpo, na alma e no espírito. Esta é a fórmula de equilíbrio do bem-viver. Aproveite a oportunidade que a vida te dá para ser feliz.
Deus te abençoe.
Grande abraço.
                                                                                   Denise F. Passos

segunda-feira, 29 de agosto de 2011

TRANSFORME INVASORES EM PÉROLAS

Que horas são? “Não sei e tenho raiva de quem sabe”’.
Quem nunca brincou deste jeito quando criança? Ali, naquele momento esta brincadeira infantil cabia à pergunta feita por minha irmã.
O tempo cessa no lugar paradisíaco. E eu estava lá, assentada na cadeira listrada em baixo do enorme guarda-sol azul e branco. Comendo cerejas, bebericando chá gelado, transformando o local em minha sala particular de leitura ao passar as vistas no interessante livro “A identidade feminina segundo Jesus”. Vez por outra erguia os olhos para ver o mar e admirar as ondas bailando ao sabor da música marítima e, a última coisa que importava era a hora. Aquela era hora de desfrutar o lugar. A paz e toda tranquilidade que estava à disposição era ímpar e eu não precisava ir embora enquanto houvesse luz.
Crianças correndo livres, boogle boards deslizando na espuma branca das incansáveis ondas, guarda sol e barracas a perder de vista nos protegendo dos raios solares intensos. As gaivotas degustavam pequenos mariscos que apareciam na superfície da areia encharcada e minúsculos caranguejos vez por outra apareciam reclamando, quando alguém mais pesado os pisava. Num dado momento meus pensamentos me levaram a Região dos Lagos, no Rio de Janeiro, onde fiz um passeio fantástico pouco tempo atrás.
Fechei o livro e fui caminhar fazendo exercício, andando dentro d’água de forma que ela fizesse peso para a locomoção das pernas. Na areia, pequenas e grandes conchas coloridas esperavam que alguém as notasse. O sol ainda queimava as costas e parar para um mergulho se fazia necessário. Nesta altura da praia, a areia tornou-se mais fofa e ficou cansativo caminhar. Cerca de dois quilômetros em linha reta e as pernas já pediam arrego. Ali estava mais deserto. Uma ou outra pessoa distante uma das outras e a visão geral era, céu, mar, a longa faixa de areia e o invisível vento que abrandava o sol ainda muito quente.
Parei um pouco para descansar e refazer o fôlego necessário no caminho de volta. Neste intervalo catei um pouco das grandes conchas que tomavam toda a palma da mão. E enquanto descansava, depois de ter lavado as conchas para retirar toda a areia grudada nelas, comecei a estuda-las. Observei que há uma diferença enorme entre o interior e o exterior. Enquanto o exterior é áspero, de relevo bastante desnivelado, opaco, poroso na grande maioria, o interior é extremamente liso, brilhante e uniforme, as cores misturadas formam belos desenhos assimétricos.
Este fenômeno ocorre por causa do Nácar, uma substância secretada pelas células ectodérmicas em algumas espécies de moluscos. Esta substância iridescente é secretada de forma contínua, a fim de alisar a parte interior da concha. Também conhecida como madrepérola, o nácar age como mecanismo de defesa contra qualquer corpo estranho que invada e se instale no interior do animal. Quando ocorre a invasão de algum objeto estranho ou mesmo algum parasita e o molusco não consegue expulsá-lo do próprio corpo ocorre um processo chamado enquistação.
Este corpo estranho causa dor e um grande incômodo, então uma quantidade de nácar envolve o invasor até que ele fique roliço e brilhante como a parte interior da concha e se adapte ao organismo do molusco não o incomodando mais. Assim as pérolas são formadas, fruto da dor e de um grande incômodo. Algo que os moluscos não têm como se livrar, transformam em preciosidade.
A natureza nos dá várias lições se estivermos dispostos a aprender com ela. Algumas vezes, quando coisas ruins nos cercam, rodeando, aumentando a pressão devagar, mas com firmeza, logo após invadem sorrateiramente e achando terreno apropriado se instalam em nós machucando de forma cruel, a ponto de deixar à alma ferida - não reagimos contra - não buscamos no interior a química natural, da qual todo ser foi dotado, chamado “mecanismo de defesa”. Os invasores penetram a mente com bastante sutileza às vezes num pensamento banal, numa palavra mal absorvida, num trauma mal administrado, que se for dada proporção maior do que a real, agiganta-se rapidamente. E o que era apenas pensamento transforma-se em tormento e logo após em prisão. Podemos dizer que, o que era virtual nasce para a realidade e comumente nos aprisiona para o resto da vida.
Porém, o Espírito Santo produz em nós uma espécie de Nácar, que flui em nosso interior nos fazendo refletir o brilho de Cristo. Então, quando algum corpo estranho á natureza do novo homem o cerca, adentra e se instala, é neutralizado por Ele, quantas vezes se fizer necessário, para não nos incomodar mais em forma de culpa. Como ensinou o apóstolo Paulo, todas as coisas me são lícitas, mas nem todas as coisas convêm. Todas as coisas me são lícitas, mas eu não me deixarei dominar por nenhuma. 1 Coríntios 6: 12

A proposta contemporânea é de que precisamos nos aceitar como somos e então, tudo fica
bem demais. Concordo em parte. Eu adoraria ter uns centímetros a mais, porém me aceito
e sou feliz com o pouco mais de um metro e meio que tenho. Mas, quando isto se aplica a outras áreas da vida que mexem profundamente com a estrutura da moral, da ética, da educação e tantos outros, fica mais complicado. Do contrário para que serve Jesus, se “eu nasci assim, eu vivi assim, eu sou mesmo assim, Gabriela”? (trecho de música popular)

Não somos nós que temos de nos adaptar aos invasores perniciosos, que incomodam e destróem o que temos de melhor. Eles precisam ser identificados e controlados, pois de outra forma farão um estrago terrível em nossa vida e, sabemos que a proposta de vida abundante que Jesus nos outorgou está a nossa disposicão, apenas precisamos conquitá-la. E esta conquista diária depende única e esclusivamente de nós. Assim como o nácar é produzido no molusco durante todo o período de sua vida, enquanto quisermos ter vida e vida abundante com Deus, deveremos permitir a producão do fruto do Espírito em nós.

Muitos esperam que Deus desca do céu e venha fazer a parte que lhes cabe. O apóstolo Paulo é bem claro quando diz “não me deixarei dominar”. Portanto eu posso você póde, nós podemos. Jesus disse que sem ele nada poderiamos fazer, então, que tal reconhecermos que somos totalmente dependentes dele, na capacidade que já nos concedida para neutralizar estes invasores?




      Denise F Passos

sexta-feira, 5 de agosto de 2011

Quietude

Um dos melhores feriados de carnaval que passei foi no ano de 1982. Um grupo de amigos alugou uma casa em Muriqui, e de lá partimos para vários passeios pela região praiana do sul do Rio de Janeiro. A casa era confortável, bastante arborizada e o riacho que corria no pequeno leito, cujas águas cantavam no tilintar entre as pedras ao fundo quintal, completava o adorno natural daquele lugar. À noite, depois que todos iam dormir, eu ficava na varanda ouvindo o som da água correndo livre e lenta. Um momento ímpar de reflexão. Olhos fechados, buscando o silêncio da alma na ânsia de encontrar comigo mesmo, divagando em pensamentos mil. Eu era tão jovem, cheia de expectativas, começando a vida de casada, grávida da primeira filha e num momento muito feliz da vida.

Normalmente na juventude não damos muita importância aos momentos de reflexão e serenidade. O que passa pela mente são apenas pensamentos que vem e se desfazem como num sopro. A quietude da alma para escutar a si mesmo é pouco ou nada entendida. Só há preocupação em absorver superficialmente o que é externo e nunca a busca reflexiva do que há dentro. Os orientais desde cedo são ensinados que através do silencio é que a introspectiva acontece abrindo caminho pra que a pessoa esteja em harmonia consigo mesma, para depois se harmonizar com o mundo exterior.

Diferente do que aprendemos no ocidente de um modo geral, pois, vivemos o burburinho da alma, numa vida a mil por hora, onde a agitação não é apenas da cidade apinhada de gente falando, e carros buzinando, máquinas quebrando asfalto, ambulantes vendendo seus produtos. Ela começa no interior do ser humano num som incontrolável que ultrapassa o limite cabível de decibéis. E quando menos se espera a válvula de escape se rompe em forma de doença, que pode ser de ordem física ou psíquica.

Não conhecemos a nós mesmos e muito menos o que se passa no interior, na imensidão da mente, o pequeno vasto mundo impenetrável. Uma gama de sentimentos com sensações próprias habitam o ser e estes vez por outra saem do equilíbrio, então é necessário coloca-los de volta em ordem, em grau de importância, para que se mantenha apto dentro de uma normalidade comum.

O fato de não pararmos para saber o que está acontecendo dentro de nós causa muito transtorno. As situações não entendidas, portanto mau resolvidas, atropelam o fluxo da vida que deveria fluir livremente. O burburinho das vozes que ecoam dentro de nós quando estamos sendo confrontados pela vida e com muita raiva dela, nos atormenta. E quando isto acontece, é estritamente necessário “parar” a fim de rever situações, sentimentos e conceitos. Coisa que só se encontra em momento de quietude reflexiva, pois, “o silencio é a primeira higiene da consciência”.

Minha amiga Cátia Gabriel vive no Japão e após o momento da grande calamidade neste último terremoto e tsunami, testemunhou sobre a serenidade e educação do povo. Isto já é cultural. Um povo sereno, tranquilo e educado. Povo que já traz em seu bojo o compromisso que cada um deve ter com o bem estar do outro. Ora, se eu não estou bem comigo mesma não posso estar bem com meu semelhante. Isto é fato real, porém, o que se vê nítido e claro em nossa sociedade é gente perdendo-se de si mesma cercada de uma multidão.

Quando o apóstolo Paulo em I Coríntios 11, 28 diz: “Examine-se cada um a si mesmo e então coma do pão e beba do cálice”, tomamos apenas para o que cometemos na área de pecado ou qualquer tipo de transgressão, mas, na pouca sabedoria de tenho suponho que este versículo pode ser interpretado de forma mais abrangente. Examinar é averiguar os caminhos pelos quais o coração quer nos levar. É examinar a si mesmo na ânsia de descobrir onde se faz necessário melhorar, onde o caráter precisa ser lapidado, onde o coração precisa ser moldado pelo fato de ser enganoso a ponto de chegar a vender-se por tão pouco. “Enganoso é o coração do homem, mais do que todas as coisas e perverso, quem o conhecerá?” Jeremias 17:9. E isto deve acontecer antes que sejamos enredados em alguma falta. A sublimidade em participar de elementos que simbolizam corpo e sangue de Jesus deveria ser entendida e absorvida com maior sabedoria para pudéssemos extrair toda riqueza deste simbolismo, e assim trazer vida e saúde plenas para a alma.

A facilidade que temos em examinar a vida do outro, em cuidar da lavoura do vizinho enquanto, não enxergamos a sequidão do próprio terreno, é absurda. Por isso os momentos de reflexão tanto a sós bem como aqueles especiais com Deus, são preciosíssimos. Eles nos ajudam a olhar para dentro num giro interior e enxergar aquilo que outros enxergam e nós não enxergamos por conta do tamanho exacerbado do nosso eu cego.

Por isso, este exame é fundamental, para encontrarmos dento de nós a pessoa brilhante que Deus criou a partir dele mesmo. Só assim acreditaremos na capacidade que Ele já nos deu, aliado aos talentos naturais que vem junto no pacote. Sendo libertos das coisas pequenas que nos prendem e, são de grande impedimento para o sucesso.

Deus abençoe a todos.

Denise Figueiredo Passos

terça-feira, 31 de maio de 2011

ENCAIXE, FUSÃO, ENXERTO OU UNIDADE?

O céu era acinzentado em Ilhéus, quando voamos para Salvador em conexão com Brasília. Durante este percurso choveu um pouco e as nuvens que encobriam qualquer faixo da luz solar, espalharam-se sobre todo o horizonte, permitindo apenas que a fugaz claridade as transpassasse, ao sobrevoarmos o Atlântico.
Meu neto que olhava atento pela janela observando o tempo, irrompeu com a pegunta? Vovó, você consegue ver onde termina o mar e começa o céu? Olhei pela janela na tentativa de identificar a linha divisória entre os dois elementos e não havia diferença alguma entre a cor do mar e do céu naquela tarde cinzenta; nem qualquer tênue linha do horizonte. Tão diferente de dois dias atrás, quando os raios solares brilhavam sobre o cartão postal da Praia do Sul e a areia morna e branca, molhada pelas ondas incansáveis, nos convidavam a entrar para um mergulho no seu vai-e-vem alternado.

Os tons de azul do céu, salpicado de pequenas nuvens brancas e o mar que bailava incessantemente, não se confundiam na paisagem. Os frondosos e verdes coqueiros, mais a vegetação rasteira mudavam a cor do cenário, aliados a barracas coloridas dispostas ao longo da orla pelo comércio local, onde a culinária baiana é apreciada pelos turistas.

Depois de observar atentamente, eu respondi: «A tempestade os uniu, meu querido, e não dá para identificar divisão alguma entre eles».

Aquela cena e a resposta dada ficaram martelando na minha cabeça por dias e me fez pensar que, enquanto tudo é luz, alegria, festa, paz, harmonia e tantos outros que fazem parte deste conjunto da vida, as diferenças podem ser percebidas, mesmo as mais sutis. É difícil ocultar quando tudo é definição, quando todos os elementos podem ser visualizados com clareza. Os traços que delineiam desejos, vontades, sentimentos e atitudes, sem sombra de dúvida se revelam na presença de quem estiver disposto a observar.

Diferentemente, quando a tormenta chega, trazendo todo tipo de dificuldade, escuras e espessas nuvens que causam confusão e abalam o que antes era belo e definido, é que as diferenças precisam ir embora. É a tormenta que forja a unidade. O tempo de bonança apenas delineia os pontos que serão ligados quando a borrasca chegar. E, neste espaço de tempo, mesmo que tudo esteja acinzentado, com pouca visibilidade, alguém vai observar, e não vai saber onde termina um e começa o outro. Só desta forma há compreensão de unidade. Unidade - que é bem mais do que um simples encaixe, mais do que uma mera fusão, mais do que uma tentativa de enxerto.  Unidade é entranhamento total.

Na verdade somos tentados a pensar exatamente o contrário. Pensamos que nos tempos de dificuldade é onde as coisas se definem negativamente pela disposição dos pensamentos, pela separação dos sentimentos e pela definição das oposições. Isto realmente acontece na vida de quem não dá o mínimo valor aos relacionamentos, a família, ao casamento, enfim, a amizade. Ocorre uma troca de valores, ou melhor, eles próprios se revelam quando a dificuldade bate à porta. A ruptura só ocorre quando o egoísmo vem a ser maior do que todos os sentimentos nobres.

Quando temos duas peças que se encaixam perfeitamente sem que sobre aparas e haja perfeição neste encaixe, ainda assim percebe-se a linha divisória de contorno entre as peças.

A fusão é o ato de conjugar duas ou mais coisas e torná-las uma só. Porém, numa fusão ainda se pode perceber os distintos departamentos de uma sociedade ou coisa semelhante.

Enxerto, por sua vez, é uma operação, onde um tecido ou uma planta é colocado dentro do outro para se misturarem dando origem a um terceiro elemento diferente do atual. Num enxerto perde-se a integridade dos componentes no resultado final.

Enquanto isto, unidade pode ser composta de dois ou mais elementos e mesmo assim ser um só. Temos como exemplo o ovo, que é composto de gema, clara e casca e mesmo assim continua sendo um ovo, uma unidade. Ninguém que olhe vai dizer que é uma gema, cercada de clara, envolvidos por uma fina casca.

Interessante, que, este visual é obtido justamente por quem está distante. Os observadores da vida alheia, seja pelo motivo que for, detectam com distinção qualquer rachadura naquilo que deveria ser uno. A pressão da situação força um esgarçamento nas cordas do coração que, cansadas do longo período de resistência, afrouxam. Neste caso, é necessário usar a força de reserva que todo ser humano tem e nem percebe que existe. Força esta que está dentro de cada um de nós, armazenada para tempos de necessidade. Quem corre da briga, desiste da situação e não usa a força de reserva, é covarde. Não luta porque não quer lutar, acha mais fácil desistir, pois não valoriza todo o investimento feito ao longo de toda existência.


Ser um com Deus, com você mesmo e com o próximo, é o resultado da aprovação dos momentos de tormenta. Momentos em que se é tentado a desistir pelo cansaço de lutar, uma luta que parece em vão. A tempestade logo passará e o sol tornará a brilhar para outra vez delinear a silhueta da vida que Deus decretou para você. Esbanjando felicidade, para glória de Deus, você olhará para trás e se gloriará nas marcas que a tempestade deixou, pois depois da calamidade, a sua terra passa a produzir a mil por um.

Deus abençoe.

                                                                                     DENISE FIGUEIREDO PASSOS

sábado, 23 de abril de 2011

É NECESSÁRIO ESVAZIAR PARA ENCHER OUTRA VEZ?

     Recebi um e-mail do Marinho, um primo muito querido e que me levou a uma profunda reflexão. Dizia o seguinte:
          O MEU CAMINHO DESTA QUARESMA
Jejuarei de julgar os outros,
          Descobrirei que Cristo vive neles.
Jejuarei das palavras que ferem,
          Direi frases que curam.
Jejuarei do egoísmo,
          Viverei na gratuidade.
Jejuarei da inquietude,
          Procurarei viver com paciência.
Jejuarei do pessimismo,
          Encher-me-ei de esperança.
Jejuarei das preocupações,
          Confiarei mais em Deus.
Jejuarei das queixas,
          Darei graças a Deus pela maravilha da minha vida.
Jejuarei da angústia,
          Orarei com mais frequência.
Jejuarei da amargura,
          Praticarei o perdão.
Jejuarei da importância que dou a mim mesmo.
          Serei compassivo com os outros.
Jejuarei das preocupações com as minhas coisas,
          Comprometer-me-ei em anunciar o Reino.
Jejuarei do pessimismo e desalento,
          Encher-me-ei de entusiasmo e fé.
Jejuarei de tudo aquilo que me sapara de Deus.
          Tentarei viver mais perto dele.
As treze frases com propostas altruístas com respeito ao objetivo do jejum é bem mais do que um texto bonitinho a ser lido no e-mail diário. A grande maioria lê, acha magnífico, porém, o deleta, não só do computador, mas também da mente e do coracão. Tudo aquilo que nos faz crescer como pessoa, está fora de moda; é muito antiquado para fazer parte do cotidiano. Era para o tempo dos nossos avós, onde as pessoas eram ensinadas a amar e respeitar a Deus e a seu próximo.
O ato de jejuar imposto pela quaresma seria importantíssimo se viesse acompanhado ao comportamento destas treze frases e posso afirmar que bem mais que isto, pois, estas são apenas o básico. E, que bom se não fosse apenas para o tempo de quaresma! Quem dera que este comportamento fosse anual e para toda a vida! Sou cristã, evangélica, e verifico que em nossas igrejas não nos é ensinado o verdadeiro jejum. O sentido real do jejum, não é passar fome por algumas horas e alguns dias da semana ou do mês, fazer dieta ou regime, mas, sim o esvaziamento de si mesmo e de conceitos errados que aprendemos, para ser preenchido outra vez com a humanidade que Deus quer que todo “ser humano” se revista.
A santidade de Deus sem humanidade é impossível acontecer. Quanto mais me aproximo dele, mais vivo a sua santidade e tudo que nela está incluído, o seu caráter e seus valores inatos. É por isso que, quando assimilo este modo de viver não carrego fardo de algo imposto por terceiros, pois, Deus conduz com amor e espera o meu tempo de despertar, pacientemente.
 - Quando julgo alguém, julgo a partir de mim mesmo. Se parar de julgar e enxergar o que existe de bom no outro, é porque olho para o reflexo de Cristo a partir do que já fez em mim.
- Jejuar das palavras que ferem é um exercício enorme e que faz toda a diferença na vida dos que nos cercam, pois, quando se acercam é porque sabem que vão receber palavras do amor que cura e não de condenação e morte. Se eu tenho palavras de condenação para o outro é porque não me sinto perdoado e nem me perdoo.
- O egoísmo não permite que se veja a necessidade do outro. Não permite a doação de si mesmo.
- A inquietação limita a visão. Não me permite ver as saídas e nelas os caminhos existentes que me conduzirão ao êxito. A paciência me ajuda a esperar o tempo de lapidação que a tribulação produz.
- Manter a esperança quanto o céu da existência está cinzento, carregado de nuvens tempestuosas, é um desafio. O dito popular recita que a esperança é a última que morre. Assim sendo, se ela morrer em mim, é porque já estou pronta a ser enterrada.
- As preocupações da vida ocupam a mente de qualquer ser humano, podendo ocorrer com maior ou menor intensidade. A confiança em Deus é que vai determinar o grau de preocupação que nutrimos e indicar se jejuamos da preocupação ou da confiança em Deus.
- O coração é agradecido quando olhamos para traz e para os lados e somos capazes de enxergar a misericórdia de Deus em nossa vida.
- A oração alimenta a esperança neutralizando o efeito da angústia.
- Jejuar da amargura é saúde para a alma. Uma prática que se obtém apenas e exclusivamente através do perdão.
- Quando nos achamos o máximo e passamos a olhar as pessoas de cima, há uma forte tendência de nos tornarmos cruéis no julgamento alheio.
- Jejuar da preocupação com os próprios interesses é o ponto de partida em busca do Reino de Deus. Só pode anunciar com verdade quem vive o comprometimento com ele.
- Cultivar o otimismo e manter a fé é viver em estado de graça. É dizer não ao pessimismo que tenta se instalar a todo instante, por estar incluído no pacote dos problemas.
- É muito difícil jejuar de tudo que nos separa de Deus, mas é justamente a proximidade dele que nos ajuda a vencer as limitações.
Todo dia é dia de repensar a vida e recomeçar. O sacrifício do Filho de Deus não foi em vão. Você e eu podemos testemunhar da maravilhosa graça na tentativa diária de ser como Deus quer que sejamos. Viver a verdadeira humanidade a qual Ele propôs deve ser nosso propósito. Mas, vale um lembrete: Só conseguimos este objetivo através dele, por causa dele e para a Glória dele.
Feliz Páscoa!
Deus nos abençoe.
Grande abraço a todos.
Denise F Passos

terça-feira, 5 de abril de 2011

ROLANDO ESCADARIA À BAIXO

Quem não gosta de assistir a vídeos engraçados, as famosas pegadinhas que nos faz rir como crianças? Algumas de tal forma inusitadas nos levam a gargalhar em dobro. Eu e minha filha Suelaine num período muito difícil de nossas vidas ficávamos acordadas até a madrugada para assistir o “American Funniest Vídeos” que nos proporcionava uma hora de divertido relaxamento.
Porém, quando todas aquelas peripécias saem da casa do vizinho e batem a nossa porta, ao vivo e em cores, a coisa muda de figura. Lembro que na adolescência, mais ou menos aos treze anos de idade, mamãe e eu tivemos uma consulta na AMSA, um extinto ambulatório de Marinha próximo a nossa casa. Após a consulta, descemos a íngreme escadaria que não possuía intervalos nos lances dos degraus e para completar finalizava com uma espessa parede de concreto à frente. Primeiro eu, mamãe vinha dois passos atrás e descíamos a escada tranquilamente, porque como diz o dito popular “pra descer qualquer santo ajuda”, quando o salto do meu sapato tocou na beira do degrau superior me desequilibrando totalmente e culminando numa terrível queda.
Meu corpo envergou para frente com o peso da cabeça em relação ao tórax e quando percebi o perigo, gritei MAMÃE!!! Mas, ela estava impotente diante daquela situação, pois, havia um intervalo de dois passos entre nós. E nestes poucos segundos que me pareceram intermináveis a ouvi clamar JESUS, TEM MISERICÓRDIA!!!
Meu corpo que já estava envergado para frente pronto para rolar escada baixo como se fosse uma bola, aprumou e então passei a saltar mais ou menos de três em três degraus até o término da longa escada. A parede que estava a minha frente, nem foi tocada por mim, parecia que tudo havia acontecido em câmera lenta. Caí sentada com as pernas dobradas para o lado esquerdo, como se estivesse num piquenique. Salvaguardada de bater com o rosto que usava óculos de grau, apenas o salto do sapato se quebrou. Nenhum osso quebrado, nenhum arranhão, nem dores. Com o coração agradecido caminhamos para casa, comentando a respeito da grandeza de Deus.
Acordei hoje pensando neste episódio e conclui que às vezes é necessário cair da escada. A sensação de medo em situações como esta nos coloca em alerta. E este medo pode ser bastante positivo. O fato é que normalmente temos medo de enfrentar situações que nos confrontam que nos olham cara a cara dizendo em tom desafiador “e agora -- quem você realmente é?” Mas, é necessário descer aos porões do inconsciente para ver o que foi sedimentado por lá, aquilo que dói tanto que deixamos trancado a sete chaves e também para saber o que podemos extrair de bom das experiências dolorosas do passado. Descer ao porão e ter coragem de explorar seus vários compartimentos é aproveitar a oportunidade que a vida dá de arrumar o interior a fim de deixar o consciente mais confortável.
O cair da escada para alguns pode ser contínuo, dependendo da atitude tomada quando se percorre o subsolo da vida. Isto pode causar um susto enorme, pois, desestabiliza as bases e às vezes isto ocorre em sua totalidade, causando uma terrível dor com efeitos irreversíveis pelo efeito das marcas deixadas, então, a pessoa passa a viver num estado de alerta contínuo, por causa do muro de proteção erigido aos trancos e barrancos. Muro este que em sua concepção viabiliza proteção imaginária ao superego conflituoso.
O cair da escada proporciona uma visualização das partes baixas do seu interior, e das câmaras secretas que todo ser humano possui. Proporciona a necessidade de se levantar do tombo levado para explorar as dependências subterrâneas da alma para quando tomar o caminho de volta a superfície, viver em maior harmonia e equilíbrio.
Este porão não tem outra porta de escape, é necessário o esforço de subir outra vez a escada. São nas vigas e nas sapatas deste porão que o seu edifício está erigido; daí a grande necessidade de cuidar bem deste compartimento, por causa dos invasores externos que não necessariamente precisam adentrar pela porta. Eles minam como a umidade mofa uma parede e então, tudo que acumulamos durante uma vida inteira se perde por causa do mofo. Este mofo subjetivo adoece sentimentos que prejudicam o relacionamento consigo mesmo e com o seu próximo.
Há pessoas que vivem presas em seus porões. Vivem presas, contando os elos da corrente na qual estão acorrentadas, buscam na religiosidade, na ciência, na filosofia, nas futilidades, a maquiagem perfeita para a resolução das suas dificuldades pessoais.
Para subir a escada é necessário:
Livrar-se dos medos – Encarar as situações catastróficas como elas se apresentam e administrá-la da melhor maneira possível.
Curar as emoções – Se for necessário procure ajuda profissional, pois, emoções mal curadas são como a doença orgânica, se mal curada, agrava-se e mata.
Perdoar a si mesmo – Esta é a maior dificuldade do ser humano. Antes de perdoar a qualquer pessoa, precisamos perdoar a nós mesmo. A culpa corrói tudo que foi construído anteriormente.
Subir a escada é, depois de toda a avaliação, cuidar do saldo positivo, saber trabalhar com ele e andar com as próprias pernas, entendendo que em todas as situações há um grande aprendizado. Viver intensamente a célebre frase deixada por Nietzsche “Aquilo que não me mata, só me fortalece”.
A misericórdia de Deus que foi exercida no tombo da escada é a mesma que me acompanha quando percorro meu porão. Ultimamente tenho feito visitas periódicas a estes compartimentos, colocando-os em ordem para um novo tempo da minha vida. Tenho algumas salas precisando de reparo, mas em compensação os depósitos estão cheios de pedras preciosas. A mão que me sustentou na queda, é a mesma que me ajuda a subir degrau após degrau. Ela me aponta a luz no topo da escada e me guia a superfície outra vez.
Chegar ao topo e explorar todas as possibilidades, viver a vida intensamente também é um grande desafio, mas eu gosto de desafios. Eles se apresentam para serem vencidos. Deixam marcas, porém me vejo fortalecida e pronta para outros desafios.
Deus abençoe a todos.
 Denise F Passos



sexta-feira, 25 de fevereiro de 2011

A geladeira e o cinto de segurança

      Hoje no almoço em família, estávamos conversando sobre as grandes necessidades que já passamos na vida. A falta que tivemos de utensílios que não são um luxo, mas uma grande necessidade. Falamos da falta que fazia um simples ventilador quando não tínhamos dinheiro a não ser para as necessidades básicas. Então eu perguntei se eles já possuíram uma geladeira com cinto de segurança. É claro que responderam, não. Pois, é eu tive uma dessas lá em casa, e foi graças a ela que eu tive uma das grandes experiências no meu crescimento com Deus.
     Meu apartamento tinha a cozinha pequena e a geladeira amarela ficava perto do tanque e o varal em parte acima dela. O piso era desnivelado, o que concorria para que a borracha que já não andava das melhores não vedasse completamente deixando escapar o ar gelado. Conclusão, a porta do refrigerador precisou ser amarrada com a alça de uma destas bolsas para viagem.  Idéia excelente que nos proporcionou um tempo maior no aguardo da nova geladeira duplex.
     Num determinado fim de semana eu fiquei encarregada de levar maionese para o almoço da igreja. Eu e a saudosa irmã Maria (acho que em todo lugar tem uma preciosidade destas) antecipamos cozinhando os legumes na noite anterior por causa do culto matutino. No dia seguinte, após o café da manhã estávamos lá, preparando uma deliciosa maionese caseira que só ela sabia fazer. Quando retiramos os legumes percebemos que estava com cheiro esquisito, pois, alguém durante a madrugada bebeu água e esqueceu-se de vedar bem a porta da geladeira. Não se preocupe, disse ela, estão consistentes, isto não é nada. Mas à medida que lavávamos parecia que não adiantava muito. Ficamos preocupadas. Não dava tempo de comprar outros, descascar, cortar e cozinhar novos legumes, também, não tínhamos dinheiro para fazê-lo. Qual a saída?
     Deixei a irmã Maria às voltas com a cozinha e fui para o meu quarto orar. Dobrei os joelhos, coloquei o rosto no assoalho e clamei ao Senhor, contando a situação que ele já bem sabia e pedindo uma solução. Pedi que se houvesse algo que pudéssemos colocar na lavagem para cortar todo cheiro e efeito que ele nos indicasse, já que é conhecedor de todas as coisas. Imediatamente, no pensamento me veio à palavra “bicarbonato de sódio”. Terminei com agradecimento me dirigi para a cozinha e perguntei se ela sabia para o que serve bicarbonato de sódio, pois, eu usava apenas para limpar e retirar cheiro do refrigerador. Ela me disse que servia para muitas coisas, inclusive se uma pessoa estivesse com congestão por causa de alimento cortava o efeito. Ok, disse eu, é com isto que vamos lavar a batata e a cenoura. Foi exatamente o que fizemos. E depois de escorrido colocamos o delicioso tempero e oramos ao Senhor, entregando aquela situação.
     Hora do almoço. Cerca de cem pessoas almoçaram naquele dia. Após a sobremesa conversamos um pouco e fomos arrumar a cozinha e guardar as sobras. Por volta das três horas da tarde uma jovem que havia chegado do trabalho perguntou se ainda havia almoço e começou a colocar a sua refeição, quando alguém disse: Pega maionese, está na geladeira. Ela virou-se, abriu a porta pegou a vasilha e quando foi colocar sobre a mesa caiu no chão e dali para o lixo.
     O fato de termos aquela iguaria apenas para o horário do almoço e nada mais, me fez repensar num Deus sempre presente. Atuante na hora da real necessidade. Quando eu não enxergava saída alguma, fadada a desistir e sofrer a vergonha de chegar com as mãos abanando, ele estava lá, pronto a agir e atender a sinceridade do meu coração. É sempre assim quando nos debruçamos sobre a fé. De uma forma ou de outra a resposta vem.
     Deus se importa com uma simples maionese? A resposta é sim. Você e eu somos importantes para ele e tudo que envolve a nossa vida também é. Por causa das aflições quotidianas e o longo período de sofrimento que nos assola, a tendência é achar que Deus, o Todo-Poderoso, está assentado no trono do universo assistindo de camarote sem importar em nada com a nossa vida.  Um Deus que diz que me ama, pode me deixar passar pelo estado de penúria? A resposta também é sim. A Bíblia diz que Deus não poupou o seu próprio filho, por uma causa maior, a nossa redenção.
     Confiamos em Deus e sabemos do seu grande poder, isto é certo. Cremos num Deus que faz milagres como os descritos na Bíblia. Mas há uma distância entre crer neste Deus poderoso que fez tais milagres e crer ao ponto de permitir que Ele seja este Deus poderoso e presente na minha e na sua vida. Que realize tais proezas em mim e através de mim, em você e através de você.  Esta é a diferença crucial da qual não nos damos conta. Vivemos um cristianismo pobre, de um Cristo ainda pregado na cruz, cujas mãos estão presas e não pode fazer nada pelos que crêem nele. Tal qual Zeus mostrado em arte no Museu do Louvre com seus braços amputados não podendo cuidar de si mesmo, que dirá reger o Olimpo.  
     A fé nos conduz pelo caminho do crescimento de experiências com Deus. A falta dela também nos conduz a um caminho, de forma inversa. A incredulidade quando instalada nos deixa como autistas em relação a tudo que diz respeito à fé em Deus. E quando o estado se agrava vira catatonia plena. Neste estágio, o cristão não ouve, não aprende, não cresce, não produz. O corpo até vai, mas a mente não acompanha. Fadado a letargia, ainda contamina a outros com toda a negatividade.
     Eu e você somos mais importantes do que uma simples maionese. Se Deus se importa em suprir para uma refeição o que não fará quando colocarmos a fé em ação nos grandes embates da vida. Nos casos de vida ou morte, onde só a intervenção divina pode solucionar o problema. Busque uma fé atuante, crescente, inabalável, pois, sem ela é impossível agradar a Deus. Esta busca deve ocorrer diariamente, nas mínimas coisas, e quando as grandes se apresentarem estaremos prontos para enfrentá-las de frente e vencê-las.
     Deus nos abençoe.
     Denise F Passos

domingo, 13 de fevereiro de 2011

Ventos do Destino


Em agosto de 2010 fiz um cruzeiro de uma semana no Liberty of the Sea. Um navio de quinze andares que nos proporcionou dias de grande entretenimento. Cerca de cinco mil pessoas estavam literalmente no mesmo barco. Gente de vários países compartilhando das delícias oferecidas aos viajantes. Diversas raças, culturas, língua, posição social, mas um só objetivo; descansar e divertir.
Saindo de Miami viajamos à noite inteira até aportarmos numa praia do Haiti. Precisamos fazer um desvio por causa do furacão que passava pelo Caribe. O vento era forte e, apesar daquela embarcação ser bastante estável, sentíamos o vai e vem delineado pelo conluio entre as ondas e o vento. Tudo era calmo na manhã seguinte. Fomos a uma bela praia, onde a água era quente e os peixes pareciam nos saudar de tão perto que chegavam. Duas horas depois o tempo virou de repente, o céu enegreceu, o vento carregava os objetos deixados na areia. Saímos imediatamente da água e procuramos abrigo. Chuva intensa e vento forte por cerca de trinta minutos. Vento este que chegou a derrubar dois arbustos à nossa frente.

Passada a tempestade, o sol raiou majestoso sem fazer muito esforço e todos voltaram a divertir-se. Parecia que nada de grave havia acontecido. Meus amigos e eu comentamos que agora tínhamos história para contar, estivemos num furacão.
Pensando sobre a força do vento e o destino da embarcação, lembrei do pequeno poema que me fora enviado por alguém no Orkut, que me ensinou uma grande verdade.

VENTOS DO DESTINO
                                                               Ella Wheeler Wilcox

Um barco sai para leste e outro para oeste
Levados pelos mesmos ventos que sopram:
É a posição das velas,
E não os temporais,
Que lhes dita o curso a seguir.
Como os ventos do mar são os ventos do destino
Quando navegamos ao longo da vida:
É a posição da alma
Que determina a meta,
E não a calmaria ou a borrasca.

Se esperarmos apenas calmarias para nos lançar com segurança no navegar da embarcação da vida é porque somos inaptos para atravessar situações adversas que se apresentam. Os temporais existem, eles chegam inesperadamente na vida de qualquer um, causando tumulto, levando preciosidades que conquistamos, arrancando pela raiz aquilo que plantamos, acabando com a festa e nos deixando acuados entre quatro paredes. Quando se está em alto mar lutando com o vento e as grandes ondas que parecem tragar a embarcação, é o leme que não deixa a embarcação à deriva. Ele norteia afastando o barco dos lugares perigosos e conduzindo-o em segurança até o lugar da bonança.

Somos como uma embarcação que navega nos mares da vida e dia após dia enfrenta desde a calmaria onde é fácil navegar e desfrutar de toda a beleza e prazer oferecidos, até as intempéries, que rouba o brilho do sol trazendo nuvens gigantescas que desabam em tempestade e o esforço para manter o leme na posição correta é quase impossível. Os perigosos recifes podem trazer danos irreversíveis ou nos levar à pique, por isso a total atenção com o leme deve ser mantida.

De acordo com o poema, é o posicionamento da alma diante das tormentas que vai direcionar o rumo que toma a vida. Ao longo dos meus cinquenta e dois anos procurei aprender um pouco com cada pessoa que passou por mim e alguns fizeram grande diferença. Em casa, com os pais, aprendi o básico que me deu subsídios para ser uma pessoa equilibrada. Porém, quando me vi fora da redoma passando por situações que chegaram para me fazer amadurecer ou apodrecer soube que precisava tomar atitudes corretas.

Então passei a me observar mais, redirecionei meus sentimentos que andavam confusos, parei de me sentir coitadinha e encarei a vida de frente, numa atitude de bravura que descobri dentro de mim. A coragem estava lá. A maturidade precisa ser conquistada, pois ela não cai do céu e não vem de mão beijada. É no enfrentamento diário que forjamos a estrutura de ferro tão necessária a alma. Com o aprendizado eu decidi que quero ser uma pessoa forte, que toma atitudes sensatas diante de situações catastróficas.

Quem conhece a minha vida e sabe das grandes dificuldades que passei e ainda passo, não entende como consigo manter este sorriso constante nos lábios. O exercício diário para manter os sentimentos equilibrados aliados a fé, me fizeram esta pessoa forte de hoje, bem diferente da Denise de trinta anos atrás, frágil, medrosa, pequena no interior, que não conseguia olhar além das dificuldades, vivendo o meu mundo pequeno sem grandes perspectivas. Hoje um novo mundo se descortinou para mim, e vou conquistá-lo, pois “a alegria do Senhor é a minha força”.

Aprendi com a experiência que nós damos dimensão a certas coisas. Se eu tenho um problema, posso me preocupar dentro da normalidade, porque sou um ser humano, ou posso passar noites sem dormir e adoecer buscando uma solução. Se uma grande tristeza me atingir, eu posso sofrer muito, desesperadamente ou de forma normal como todo mundo. Se perdermos o ponto de equilíbrio nas situações, ficamos à deriva como a embarcação cujas velas se rasgam e o leme avaria. O posicionamento correto da alma diante da vida pode e deve ser controlado por nós.

Afinal, a vida é bela apesar dos pesares e, para se manter desta forma, eu e você precisamos nos esforçar. Eu posso vir a ser o meu pior inimigo se me acomodar diante das situações, se der ouvidos a voz dos pensamentos negativos, que uma vez instalados corroem tudo de positivo na estrutura do ser. O leme que direciona as velas foi dado em nossas mãos. Que posição tomar? Avançar ou retroceder? Cruzar os braços ou arregaçar as mangas? Ser corajoso ou coitadinho? Estas são indagações impostas pelo desafio diário precisam ser bem decididas por mim e por você, para que a vida dentro de nós continue sendo simplesmente BELA.

Grande abraço.

Denise Figueiredo Passos