domingo, 13 de fevereiro de 2011

Ventos do Destino


Em agosto de 2010 fiz um cruzeiro de uma semana no Liberty of the Sea. Um navio de quinze andares que nos proporcionou dias de grande entretenimento. Cerca de cinco mil pessoas estavam literalmente no mesmo barco. Gente de vários países compartilhando das delícias oferecidas aos viajantes. Diversas raças, culturas, língua, posição social, mas um só objetivo; descansar e divertir.
Saindo de Miami viajamos à noite inteira até aportarmos numa praia do Haiti. Precisamos fazer um desvio por causa do furacão que passava pelo Caribe. O vento era forte e, apesar daquela embarcação ser bastante estável, sentíamos o vai e vem delineado pelo conluio entre as ondas e o vento. Tudo era calmo na manhã seguinte. Fomos a uma bela praia, onde a água era quente e os peixes pareciam nos saudar de tão perto que chegavam. Duas horas depois o tempo virou de repente, o céu enegreceu, o vento carregava os objetos deixados na areia. Saímos imediatamente da água e procuramos abrigo. Chuva intensa e vento forte por cerca de trinta minutos. Vento este que chegou a derrubar dois arbustos à nossa frente.

Passada a tempestade, o sol raiou majestoso sem fazer muito esforço e todos voltaram a divertir-se. Parecia que nada de grave havia acontecido. Meus amigos e eu comentamos que agora tínhamos história para contar, estivemos num furacão.
Pensando sobre a força do vento e o destino da embarcação, lembrei do pequeno poema que me fora enviado por alguém no Orkut, que me ensinou uma grande verdade.

VENTOS DO DESTINO
                                                               Ella Wheeler Wilcox

Um barco sai para leste e outro para oeste
Levados pelos mesmos ventos que sopram:
É a posição das velas,
E não os temporais,
Que lhes dita o curso a seguir.
Como os ventos do mar são os ventos do destino
Quando navegamos ao longo da vida:
É a posição da alma
Que determina a meta,
E não a calmaria ou a borrasca.

Se esperarmos apenas calmarias para nos lançar com segurança no navegar da embarcação da vida é porque somos inaptos para atravessar situações adversas que se apresentam. Os temporais existem, eles chegam inesperadamente na vida de qualquer um, causando tumulto, levando preciosidades que conquistamos, arrancando pela raiz aquilo que plantamos, acabando com a festa e nos deixando acuados entre quatro paredes. Quando se está em alto mar lutando com o vento e as grandes ondas que parecem tragar a embarcação, é o leme que não deixa a embarcação à deriva. Ele norteia afastando o barco dos lugares perigosos e conduzindo-o em segurança até o lugar da bonança.

Somos como uma embarcação que navega nos mares da vida e dia após dia enfrenta desde a calmaria onde é fácil navegar e desfrutar de toda a beleza e prazer oferecidos, até as intempéries, que rouba o brilho do sol trazendo nuvens gigantescas que desabam em tempestade e o esforço para manter o leme na posição correta é quase impossível. Os perigosos recifes podem trazer danos irreversíveis ou nos levar à pique, por isso a total atenção com o leme deve ser mantida.

De acordo com o poema, é o posicionamento da alma diante das tormentas que vai direcionar o rumo que toma a vida. Ao longo dos meus cinquenta e dois anos procurei aprender um pouco com cada pessoa que passou por mim e alguns fizeram grande diferença. Em casa, com os pais, aprendi o básico que me deu subsídios para ser uma pessoa equilibrada. Porém, quando me vi fora da redoma passando por situações que chegaram para me fazer amadurecer ou apodrecer soube que precisava tomar atitudes corretas.

Então passei a me observar mais, redirecionei meus sentimentos que andavam confusos, parei de me sentir coitadinha e encarei a vida de frente, numa atitude de bravura que descobri dentro de mim. A coragem estava lá. A maturidade precisa ser conquistada, pois ela não cai do céu e não vem de mão beijada. É no enfrentamento diário que forjamos a estrutura de ferro tão necessária a alma. Com o aprendizado eu decidi que quero ser uma pessoa forte, que toma atitudes sensatas diante de situações catastróficas.

Quem conhece a minha vida e sabe das grandes dificuldades que passei e ainda passo, não entende como consigo manter este sorriso constante nos lábios. O exercício diário para manter os sentimentos equilibrados aliados a fé, me fizeram esta pessoa forte de hoje, bem diferente da Denise de trinta anos atrás, frágil, medrosa, pequena no interior, que não conseguia olhar além das dificuldades, vivendo o meu mundo pequeno sem grandes perspectivas. Hoje um novo mundo se descortinou para mim, e vou conquistá-lo, pois “a alegria do Senhor é a minha força”.

Aprendi com a experiência que nós damos dimensão a certas coisas. Se eu tenho um problema, posso me preocupar dentro da normalidade, porque sou um ser humano, ou posso passar noites sem dormir e adoecer buscando uma solução. Se uma grande tristeza me atingir, eu posso sofrer muito, desesperadamente ou de forma normal como todo mundo. Se perdermos o ponto de equilíbrio nas situações, ficamos à deriva como a embarcação cujas velas se rasgam e o leme avaria. O posicionamento correto da alma diante da vida pode e deve ser controlado por nós.

Afinal, a vida é bela apesar dos pesares e, para se manter desta forma, eu e você precisamos nos esforçar. Eu posso vir a ser o meu pior inimigo se me acomodar diante das situações, se der ouvidos a voz dos pensamentos negativos, que uma vez instalados corroem tudo de positivo na estrutura do ser. O leme que direciona as velas foi dado em nossas mãos. Que posição tomar? Avançar ou retroceder? Cruzar os braços ou arregaçar as mangas? Ser corajoso ou coitadinho? Estas são indagações impostas pelo desafio diário precisam ser bem decididas por mim e por você, para que a vida dentro de nós continue sendo simplesmente BELA.

Grande abraço.

Denise Figueiredo Passos